São Paulo (AUN - USP) - O deputado federal (PSDB) Silvio Torres, relator da CPI da CBF/Nike, veio a Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo – EEFE/USP – na última sexta-feira, dia 14, para afirmar que os oito meses de investigações deram resultados.
Apesar de não ter sido votado, o relatório de 800 páginas não foi parar na gaveta. Segundo o deputado formado em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP – ECA - 33 pessoas foram indiciadas, entre elas o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o sócio de Edson Arantes do Nascimento na Pelé Sports Marketing, Hélio Viana e Juan Figer, acusado de tráfico de jogadores. Além disso, a comissão elaborou uma proposta para um estatuto dos desportos visando acabar com as irregularidades no futebol, que está sendo avaliado pela Câmara Federal. Este estatuto sugere a criação do Ministério do Desporto separado da seção de Turismo. Prevê também que os clubes serão obrigados a prestar contas anualmente a uma auditoria independente, que os técnicos deverão ser formados em Educação Física e que os patrocínios e agentes empresários serão regulamentados.
O deputado explicou para os alunos e professores da USP presentes no debate, que o relatório não foi levado a votação por medo de que os oito meses de trabalho fossem perdidos. Dias antes da votação do relatório final, 10 dos 25 integrantes da CPI foram trocados por influência da “bancada da bola” – parlamentares ligados aos dirigentes do futebol. Isto mostrava que o relatório corria sério risco de não ser aprovado, já havendo um segundo relatório que não indiciava ninguém. Falando da possível aprovação deste segundo relatório elaborado pela “bancada da bola”, o deputado declarou: “seria o mesmo que dar um atestado de idoneidade para os dirigentes que julgávamos culpados”. Para evitar a derrota, os deputados Silvio Torres e Aldo Rebelo cancelaram a votação e encerraram os trabalhos da CPI. Mas o que parecia “acabar em pizza”, teve um desfecho diferente. Este relatório foi levado por estes dois deputados ao Ministério Público, à Receita Federal, ao Ministério dos Esportes, à Polícia Federal etc. Segundo Silvio Torres, 12 Ministérios Públicos Estaduais estão prosseguindo com as investigações e com os indiciamentos, baseados no relatório da CPI.
Este relatório expunha o contrato da Nike com a CBF. Seriam U$400 milhões por dez anos, ficando U$160 milhões destes para a Confederação e o resto para uniformes, viagens, marketing esportivo e U$8 milhões para indenização da Umbro. Mas o que há de suspeito nisso, é que somente Ricardo Teixeira assinou este contrato pela CBF, enquanto quatro empresários assinaram pela Nike, e que a Confederação passou a ter prejuízos anuais após a assinatura do contrato. Mas apesar dos prejuízos, a CPI apurou aplicações da Confederação em ouro no exterior, além de mais de R$ 650 mil doados para candidatos a deputados e senadores, entre eles o vice-presidente do Vasco da Gama e deputado federal Eurico Miranda, que recebeu R$100 mil. O deputado federal Silvio Torres denuncia cláusulas do contrato aceitas pela CBF, consideradas abusivas, entre elas a do poder da Nike na convocação de até oito jogadores e na decisão de quais amistosos a seleção iria realizar. O deputado acredita que a escalação de Ronaldinho para a final da Copa do Mundo de 98, mesmo tendo tido convulsões na noite anterior, foi devida, certamente, à influência da Nike. Consta também das investigações, o contrato de U$10 milhões anuais com a Ambev.
Todos estes números milionários vem em oposição aos empréstimos feitos no exterior. Foram seis junto ao Delta Bank americano, somando U$39 milhões de dólares pagando 52% de juros. Ricardo Teixeira tentou justificar estas taxas elevadas pela crise na Rússia, mas no mesmo período, empresas dele fizeram empréstimos a juros de 12%. A CPI calcula que com a elevada taxa de juros, e com o pagamento deles adiantados, a CBF perdeu cerca de R$7 milhões. Os deputados acreditam em lavagem de dinheiro no exterior.
Outro nome envolvido nas acusações do relatório, foi o do “rei do futebol”. A empresa Pelé Sports queria comprar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, mas para isso receberam a proposta de fazerem um depósito de U$1 milhão na conta de um dirigente da CBF. Recusando a proposta, Pelé rompe com a Confederação, mas mesmo assim não quer depor na CPI. Um acordo reata o ex-jogador à CBF: seria realizada no Brasil a Copa de 2010, para a qual seria necessária a reforma dos estádios brasileiros. Uma empresa já contratada pela Pelé Sports seria a responsável pela reforma. Edson Arantes do Nascimento e seu sócio vem sendo investigados pela Receita Federal desde 1998.
A CPI também apurou o tráfico de jogadores para o exterior. Juan Figer é acusado de vender jogadores para times das divisões inferiores do futebol uruguaio, para que depois sejam revendidos por um valor muito mais alto para o exterior. Estes jogadores, nem ao menos passam pelo Uruguai. O Clube Atlético Paranaense já vendeu dez jogadores por esta via.
Silvio Torres esclareceu que tudo isto não chega a 10% do que foi apurado no relatório. Os interessados na leitura do relatório ou do Estatuto dos Desportos podem encontrá-los na EEFE/USP, entrando em contato com o professor José Alberto Aguilar Cortez, no e-mail acortezi@usp.br.