São Paulo (AUN - USP) - “É exportar ou morrer.” A frase proferida semana passada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso foi motivo de grandes polêmicas durante o “2º Seminário Internacional da USP”, realizado dias 27 e 28 de agosto no Prédio da Administração da Escola Politécnica, na Cidade Universitária. Em evento voltado a discutir estratégias de integração e desenvolvimento entre países emergentes, personalidades brasileiras e internacionais apresentaram visões distintas e controversas em relação a essa nova prioridade econômica anunciada pelo presidente.
Rubens Ricúpero, Secretário Geral da UNCTAD e homenageado do evento, foi um dos que aprovou a política anunciada por FHC. Durante a palestra de abertura do seminário, ele afirmou que “o comércio exterior é a única saída para o atual governo”. Apesar da aprovação, Ricúpero criticou a demora do Planalto em assumir esse projeto de desenvolvimento e mostrou-se pessimista em relação à efetividade dessa política econômica num curto prazo. “É extremamente difícil esperar um grande aumento das exportações em um ano adverso como este”, disse.
Já professor da Unicamp José Graziano, discorrendo sobre a nova realidade rural brasileira, foi extremamente crítico em relação à posição de FHC. “Hoje a agricultura brasileira vive um período de ociosidade não por causa da falta de máquinas e tecnologia, mas sim devido a uma falta de demanda do mercado externo”, disse o professor. “E alguns ainda gritam ´exportar ou morrer`”, ironizou.
“Curioso ouvir isso aqui no Brasil, pois na China também se tem uma idéia semelhante a essa de ´exportar ou morrer`”, disse Zhiyuan Cui, pesquisador sobre economia chinesa do MIT, outro palestrante a tocar no assunto. “Mas creio que a exportação não pode ser encarada como uma meta por si só, e esse é o momento de os grandes países emergentes, como o Brasil e a China, se focarem no mercado interno.” O debatedor Winson Suzigan, professor da Unicamp, qualificou como “patética” a frase do presidente.
O “2º Seminário Internacional da USP” abordou temas como modelos de abertura, política industrial, agricultura, agroindústria e blocos regionais. O evento contou com a presença de representantes da China, Índia, África do Sul e México, convidados para debater comparativamente estratégias de desenvolvimento nacional e cooperação internacional. O acadêmico John Harris, da London School of Economics – Inglaterra, abordou em sua palestra os malefícios causados pela abertura da agricultura indiana ao mercado ocorrida na última década.
Além das palestras, foi realizado durante o evento o lançamento do livro Razões e Ficções do Desenvolvimento (Editora Unesp/Edusp), organizado por Glauco Abrix, Mauro Zilbovicius e Ricardo Abramovay. A obra é baseada no “1º Seminário Internacional da USP” , realizado ano passado. Durante o encerramento do seminário, um dos organizadores do evento, o professor Álvaro Comin, anunciou que a terceira edição do evento, a ser realizada no ano que vem, terá como tema o processo de urbanização nos países emergentes.