São Paulo (AUN - USP) - A queda das torres gêmeas do World Trade Center tem efeito na economia menor que o esperado pelo grande público. Esta foi a conclusão a que chegou o professor Roy Martelac, especialista em finanças da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP depois de analisar os possíveis cenários resultantes do ataque terrorista nos EUA.
Frente aos ataques, a economia americana e consequentemente a economia mundial, terá seu equilíbrio certamente balançado e isto desenha duas possibilidades. Numa delas o efeito macro-econômico do ataque é zero e após um abalo de algumas semanas a situação seria normalizada. Na segunda alternativa teríamos o fim de um ciclo, a “bolha” da Nova Economia em que os EUA viviam se romperia e o ataque apenas precipitaria uma queda que já estava prestes a acontecer devido a problemas antigos que só então estariam sendo reconhecidos. Nesta situação as bolsas permaneceriam em queda até que fosse atingido um novo patamar. Em ambas situações a disposição do consumidor americano fará diferença. Se a crise levá-lo a ser mais cuidadoso e poupar mais, o que é bem provável, o equílibrio levaria mais tempo para ser atingido.
A queda das ações de companhias aéreas e de seguradoras (muitas com sede nos prédios atingidos) é inevitável, mas passageira. “Uma empresa desaparecer não significa nada, o que importa é a demanda que ela atende, que será atendida por outra empresa de seu segmento”, afirma Martelac.
Ele também ressalta que os norte-americanos estão estimulados pela possibilidade de guerra, o que dá a Bush carta branca, dando-lhe a possibilidade de aprovar projetos que têm pouco apoio popular sem que isso lhe custe votos. Assim ele pode agradar possíveis aliados através da OMC, podendo inclusive acelerar ou adiar a Alca de acordo com o interesse de possíveis parceiros como o Brasil e, principalmente, a Argentina. Mas este apoio incondicional de seus aliados depende de sua ação contra Osama Bin Laden. Os americanos querem ver sangue e se Bush não lhes mostrar ele poderá sofrer uma queda absurda de populariedade e perder votos assim como aconteceu com Jimmy Carter na crise dos reféns no Irã.
Mas sua vingança precisa ser bem estudada para não deixar seqüelas indesejadas no Oriente Médio. É preciso fazer declarações públicas de repudio à agressões contra árabes e que deixem claro que os terroristas são uma minoria entre os muçulmanos. Um ataque militar dificilmente vai eliminar os grupos radicais muçulmanos e, pelo contrário, criará mártires. Uma idéia não pode ser eliminada com balas mas precisa ser desmoralizada, seu líderes precisam ser expostos ao ridículo e não martirizados. O apoio de países vizinhos ao Afeganistão pode ser útil ao exército norte-americano, que usaria a estratégia de dividir para dominar.
Por fim não há a menor chance de uma retaliação árabe através do petróleo, como temem alguns. O Afeganistão é um país pobre e que não possui petróleo e os países da Opep já declararam apoio aos EUA em sua maioria. Mesmo a Arábia Saudita, terra natal de Bin Laden já declarou que não tem nada a ver com suas atitutes . “Países no deserto são facilmente ocupáveis e o que eles mais temem é perder seu poços de petróleo”, diz o professor Martelac.