São Paulo (AUN - USP) - De 1994 a 2004, os índices de homicídio no Brasil cresceram de 32.603 para 48.374 ao ano, segundo dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Os dados foram analisados recentemente por Julio Waiselfisz, diretor do Instituto Sangari, em artigo para o Dossiê do Crime Organizado, publicação de dezembro do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.
Os dados revelam que, ao mesmo tempo em que os homicídios aumentaram cerca de 48,4% na década analisada, o crescimento populacional não passou de 16,5%. Ou seja, para cada nascimento houve cerca de três mortes. Entre os Estados que mais se destacam em homicídios está Pernambuco, onde os índices chegam a mais de 50 mortes para cada 100 mil habitantes.
Essa tendência de crescimento sofreu um significativo abalo em 2004, quando os dados tiveram um decréscimo de 5,2%, impulsionado pelo aumento de políticas públicas de redução da violência, especialmente no controle de armas de fogo.
Mesmo assim, segundo Waiselfisz, esses dados permitem evidenciar o aumento da violência, principalmente nas cidades menores, e uma estagnação do já conhecido conflito dos grandes centros: “As evidências levantadas permitiram verificar que está em andamento um processo de reconfiguração espacial da violência homicida no país, com a emergência de municípios com taxas de violência extremamente elevadas, maiores que os das capitais e das regiões metropolitanas”, afirma o pesquisador na introdução de seu artigo.
A violência atinge, principalmente, a faixa mais jovem da população – de 20 a 24 anos -, que responde por 64,9 mortes para cada 100 mil habitantes. Entretanto, o pesquisador chama atenção para um dado alarmante: entre os jovens menores de idade – de 14 a 17 anos – houve um crescimento de 63,1% no número de mortes.
Em Estados como Rio de Janeiro e Pernambuco, os índices aumentam, chegando a 100 homicídios para cada 100 mil jovens.
Os mais atingidos são homens: 92% do total. A população negra também é o maior alvo dos homicídios, 73,1%. Esses dados podem chegar a oito mortes de negros para uma morte de brancos, em alguns Estados, conclui a pesquisa.