ISSN 2359-5191

17/03/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 04 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Medicina
Cientistas precisam de mais ética nas pesquisas com animais

São Paulo (AUN - USP) - Os cientistas sérios devem saber de sua responsabilidade no uso de modelos animais em seus experimentos. Não há, no entanto, no Brasil uma lei que regule essa atividade. Verônica Coelho, pesquisadora do Instituto de Investigação em Imunologia, do Instituto do Milênio, atentou para esse problema num curso sobre modelos animais em pesquisas, que acontece no Centro de Bioterismo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Ela mostrou exemplos de animais usados em pesquisa e como é importante o maior cuidado no seu trato dentro do laboratório.

A professora destacou que as espécies têm respostas imunes diferentes, de acordo com fatores genéticos ou ambientais. O pesquisador deve ter em mente o objetivo de seu trabalho para que menos animais sejam sacrificados para o progresso da ciência. Testar, em qualquer pesquisa, vários grupos de várias espécies pode representar um sacrifício desnecessário. Fazer o mesmo em modelos geneticamente iguais (por modificação genética ou cruzamentos repetidos) e modelos aleatórios também não implica progresso da ciência. Um pesquisador, por exemplo, usa camundongos no seu trabalho. Se ele quer saber o efeito de uma droga em população em que há diversidade, não há a necessidade de testá-la em camundongos geneticamente iguais.

Outra questão levantada é sobre qual animal tem as características pesquisadas mais similares ao homem. Assim, a pesquisa seria mais aplicável. Mas, neste ponto, levanta-se uma grande questão ética, na opinião de Verônica: a utilização de primatas não-humanos. Ela defende que sua utilização deve ser em última instância. Apesar das proximidades com o homem, as respostas às pesquisas são, às vezes, totalmente diferentes de humanos. Além do mais, há alternativas bem aceitas aos macacos, como por exemplo o peixe-zebra, que já é uma referência nas pesquisas genéticas.

No Brasil, foi proposta uma regulamentação das pesquisas com modelos animais em 1995. A chamada Lei Arouca (projeto 1.153/95, proposto pelo deputado Sérgio Arouca) parou no Congresso e ainda não foi aprovada. Isso dificulta uma uniformização nos laboratórios. Os maiores, porém, já se guiam por ela, mesmo antes de ser aprovada. A regulamentação seria mais um passo na direção de conseguir um consenso entre cientistas, sociedades protetoras de animais e comunidade.

Verônica conclui dizendo que “a gente tem que buscar caminhos novos nessa fronteira”. Os modelos animais só devem ser usados se estritamente necessários, como defende a própria lei Arouca. Mas esse tipo de pesquisa ainda é essencial. Claude Bernard, médico e cientista francês do século XIX, atestava isso, há mais de cem anos, ao dizer que só podemos salvar seres vivos da morte após sacrificar outros.

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