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27/03/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 06 - Meio Ambiente - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Carência de técnicos prejudica a produção de orgânicos

São Paulo (AUN - USP) - Atualmente, com o alerta dado pelos cientistas a respeito da degradação ambiental, vem ocorrendo um crescimento muito grande das práticas ditas ecologicamente corretas. E, dentre essas, uma das que tem recebido maior atenção é a área da produção de alimentos orgânicos, mercado que movimentou no mundo cerca de US$ 60 bi só em 2006. “A produção de orgânicos não é coisa de ‘eco louco’ de ‘podes crer’, como eu fui chamada no início. É sério. É um movimento que cresce barbaramente”, afirmou a médica veterinária especialista em homeopatia e em biodinâmica Leslie Almeida. Apesar desse grande desenvolvimento, o Brasil, um dos grandes produtores de alimentos orgânicos, desperdiça parte de seu potencial por não possuir uma legislação adequada nem um corpo de profissionais capacitados que consiga atender à demanda dos produtores.

O primeiro passo no sentido de regulamentar o que seria considerado orgânico no país se deu em 1999 com uma instrução normativa que expunha as diretrizes a serem seguidas pelos produtores para que os alimentos fossem considerados orgânicos. Devido à falta de tempo para sua elaboração, visto que o Brasil já exportava alimentos orgânicos naquela época, essa instrução apresentava diversas falhas só corrigidas em 2003 pela lei nº. 10831. Mas essa lei foi regulamentada pelo decreto nº. 6323, lançado somente em dezembro do ano passado. Isso significa que, até então, não havia como punir falsos produtores de orgânicos e nem como fiscalizá-los. Assim, para poder exportar, esses empresários precisam recorrer a certificadoras que se baseiam nas legislações de países europeus, dos Estados Unidos e do Japão a fim de adentrar esses mercados.

Os trabalhadores rurais ainda sofrem com duas dificuldades a mais: eles precisam ter acesso às novas tecnologias e, no período de transição da produção convencional para orgânica, a produtividade sofre uma queda. Nesse difícil período são necessárias linhas de crédito e financiamento, pois, sem elas, a produção de matérias-primas se torna muito onerosa e isso se reflete nas indústrias.

A ausência de técnicos para auxiliar na produção de alimentos orgânicos também é uma das dificuldades impostas aos que querem trabalhar nesse campo. Com o objetivo de trabalhar de forma economicamente viável, as indústrias dependem de um volume razoável de matéria prima e, para isso, diversos produtores precisam estar de acordo com as normas das certificadoras. É papel dos agrônomos e veterinários orientar esses empresários, prestar consultorias, pois só com essa colaboração eles poderão atender as exigências do mercado.

Existe também uma grande preocupação com a questão social. “A gente quer pessoas com melhor qualidade de vida, com dignidade. Não pode haver aquele trabalhador miserável a vida toda enriquecendo só a indústria, que absorve a matéria-prima a preços baixíssimos. O mundo passa a girar além dos muros daquela empresa. Isso é ser orgânico”, afirma a especialista.

Há também uma necessidade de se aprender, de fato, o que significa ser orgânico. “As pessoas acham que ser orgânico é não ter veneno. Mas é algo muito mais profundo que isso. A palavra ‘orgânica’ não vem de química orgânica, ela vem do termo organismo agrícola, e num organismo agrícola homem, animal, planta e solo precisam estar em harmonia para que tudo possa correr de uma maneira muito mais equilibrada.” conta Leslie.

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