São Paulo (AUN - USP) - Seus olhos se encheram d’água para a conclusão da exposição. Em seguida, o público que lotava o Teatro da Faculdade de Medicina da USP aplaudiu de pé e intensamente Miguel Angelo Laporta Nicolelis, um cientista de prestígio, emocionado na visita à faculdade em que se formou. Ele apresentou sua pesquisa desenvolvida na Universidade Duke, em Durham, Carolina do Norte, EUA, que desenvolve a interface cérebro-máquina. Tal pesquisa tem alcançado sucesso na implantação de braços e pernas robóticos controlados por sinais emitidos pelo cerébro. Além disso, o neurocientista mostrou o projeto de instalação de um centro de neurociência no Brasil, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), já em andamento em Natal, em que estão associadas a Universidade Duke e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), parceiros da iniciativa privada, governo federal e associações de apoio à pesquisa.

Já estão abertas as inscrições para a I Escola de Altos Estudos em Neurociência, projeto sem precedentes no Brasil, do IINN-ELS. São oferecidas 50 vagas nas aulas presenciais para alunos de pós-graduação da área. O curso ainda será transmitido por teleconferência a milhares de alunos de pós das universidades federais brasileiras. As inscrições vão até 9 de maio e o curso será de 1º de julho a 29 de agosto. A idéia do instituto coordenado por Nicolelis é inserir o país nas pesquisas avançadas em neurociência. Mais ainda, ele quer promover a inclusão no panorama científico nacional de Natal, em vez de ficar no eixo Rio-São Paulo. O IINN-ELS também desenvolve projetos sociais no seu entorno, na periferia da capital potiguar.

Nicolelis mostrou também os resultados de sua pesquisa. Ele cria próteses neurais, que reagem a comandos do cerébro. Este imagina o movimento e envia ondas captadas pelas próteses-robôs, que as transformam em movimento real. As pesquisas, feitas com macacos, dão ótimo resultado. No início deste ano, um macaco enviou sinais cerebrais do laboratório em Durham que permitiram que um robô andasse em Quioto, no Japão, em tempo real. Quando o macaco foi condicionado a parar de andar, mas ainda projetava o movimento, o robô continuou a andar por um tempo. Isso indica que não há uma simples cópia de movimentos, mas ocorre de fato uma interação direta do cérebro com a máquina.

Uma fronteira ainda a ser transposta é a transmissão de sinais que permitam os movimentos de qualquer parte do corpo. Os estudos, pioneiros, são uma grande esperança para portadores de doenças degenerativas corporais, que agora já vislumbram a reabilitação. Os benefícios da pesquisa poderão alcançar portadores do mal de Parkinson, de paraplegia e tetraplegia ou qualquer lesão medular – como a medula deixa de receber sinais cerebrais ela perde sua ação. Daí a importância de uma ligação direta dos membros com o cérebro.

Não à toa, Nicolelis é o brasileiro que tem sempre seu nome mais lembrado para concorrer ao prêmio Nobel. Ele também é professor titular na Escola Politécnica Federal, em Lausanne, Suíça. Sua palestra no Teatro da FMUSP foi intitulada “Navegando pela Fronteira da Neurociência”. Ela ocorreu no dia 12 de março, ao meio-dia e foi organizada pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. O cientista mostrou sobretudo que a ciência pode ultrapassar muitas fronteiras. E em vários campos.