São Paulo (AUN - USP) - A disputa de espaço com o setor de alimentos e o alto índice de poluição são os pontos mais polêmicos no debate a respeito dos biocombustíveis. A crise prevista com o fim do petróleo tem incentivado as pesquisas nessa área, mas ainda não há um consenso com relação aos impactos dessas novas fontes energéticas. Foi justamente esse o tema abordado na palestra “Impactos Sócio-ambientais dos Biocombustíveis” ocorrida recentemente na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP.
No Brasil, o etanol é o biocombustível de maior destaque. As condições naturais do país favorecem o desenvolvimento da cana-de-açúcar e dão sustentabilidade aos investimentos aplicados. De acordo com o presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Maurício Tolmasquim, “o Brasil está numa situação completamente distinta da de outros países [com relação aos recursos naturais]”. A afirmação anterior contra-argumenta os últimos estudos divulgados sobre impactos econômicos e ambientais dos biocombustíveis. A principal crítica feita, em âmbito mundial, é a influência que as matérias-primas desse novo tipo de matriz energética oriunda da cana, do milho, entre outros, podem gerar aumento nos preços de produtos agrícolas em geral.
Em países europeus cujo projeto de instauração de fontes energéticas alternativas está mais avançado, a extensa área destinada à produção de insumos preocupa. Em longo prazo isso pode gerar a concorrência de preço sob um mesmo produto agrícola conforme o mercado – por exemplo, a cana será disputada entre as indústrias de energia e de alimentos. Segundo o professor Guilherme Dias, do Núcleo de Economia Socioambiental da USP (Nesa), “A contaminação de preços, pelo lado dos alimentos, é inevitável. (...) Claramente tem que equilibrar os dois preços [do etanol e do açúcar] e o vetor tem que ser o mesmo dentro do processo”.
Sob o ponto de vista ambiental, o biocombustível prejudicaria menos a natureza por não emitir gases contribuintes do efeito estufa. A emissão de poluentes ocorre em uma pequena parcela do sistema produtivo do etanol que seria, segundo alguns especialistas, compensada na (re)plantação. No entanto, no segundo semestre de 2007 algumas pesquisas alegaram que o impacto ambiental é maior do que o previsto até então, pois deve-se levar em consideração, dentre outros fatores, a parcela de carbono liberada com a mudança de uso do solo. Essas novas informações reacenderam o debate em torno dos impactos ambientais dos biocombustíveis. Uma das soluções apontadas foi a exigência do certificado de produção de insumos para controlar o modo de exploração desses novos recursos.
Maurício Tolmasquim deu continuidade ao assunto reafirmando que o Brasil tem um grande potencial de crescimento no setor energético e que “os países da Europa e os Estados Unidos não são referência para o que acontece no Brasil. A nossa realidade é totalmente distinta da desses países”. Resta saber agora quais medidas do governo brasileiro vão vigorar para o desenvolvimento sustentável e como vai se dar a influência de outros países com realidades distintas.