São Paulo (AUN - USP) - A expansão do chamado arco de desmatamento não causará uma redução geral da quantidade de chuvas e nem um aumento abrupto da temperatura na Amazônia, mostrando que o clima vai ser alterado pela retirada da floresta, porém em proporções menores que as divulgadas até agora. São esses os resultados das pesquisas de Adilson Wagner Gandu, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, apresentados em uma palestra do ciclo Meteorologia e Sociedade.
Foi amplamente divulgado na mídia que a Amazônia vai esquentar e sofrer uma diminuição na quantidade de chuvas devido ao desmatamento, contribuindo, e muito, para o efeito estufa. Essas conclusões vêm de estudos que utilizam Modelos de Circulação Geral (MCG) - programas que analisam a circulação da atmosfera terrestre como um todo. Outras projeções utilizando o mesmo método, no entanto, mostravam mais chuvas e diminuição de temperatura. Mas como é possível terem chegado a resultados opostos?
A resposta está no próprio método: um modelo global tem baixa resolução – é como se cada área estudada fosse um quadradinho, um pixel, de uma enorme fotografia, a Terra, e esse quadradinho abrangesse uma área grande demais, deixando a foto com pouca riqueza de detalhes. Isso impede que se estudem áreas pequenas e bem delimitadas. Além disso, a vegetação normalmente é considerada a mesma em todas as épocas do ano, o que aumenta a imprecisão das projeções, principalmente em um ecossistema que se modifica conforme o ciclo das águas, como o Amazônico.
Uma solução é utilizar os modelos de meso-escala, programas que analisam uma área limitada e têm resolução muito maior que os MCG. Eles possibilitam que se estude um ambiente regional com mais precisão, no entanto, precisam de informações de um modelo global para saberem o que está acontecendo com o clima em volta do local estudado.
Foi com um programa desse tipo que o professor Gandu e outros pesquisadores estudaram a região a Amazônia. As projeções são feitas considerando a mudança da vegetação no decorrer do ano e o desmatamento progressivo da floresta, que é substituída por pastagens. Também se trabalha com a condição "sem governança" (também chamada de "business"), cenário em que o governo não atua de forma efetiva para coibir o desmatamento e a ocupação não-planejada da área. Segundo o estudo, em 2050, teremos o predomínio das pastagens e clima estará alterado. Choverá menos no litoral e no leito dos rios. No entanto, o volume pluviométrico aumentará nas regiões mais altas (região central do estado do Amazonas). A temperatura subirá em toda a região e o aquecimento máximo (em torno de1ºC) se dará na região da fronteira entre o Amazonas e o Acre. Também haverá aumento da velocidade média dos ventos, mas de forma não uniforme.
Esses modelos, contudo, ainda não conseguem prever como essa mudança no clima vai influenciar na dinâmica da circulação dos ventos e das chuvas no resto do mundo. Alguns efeitos já conseguimos prever: aumento das chuvas na região Sudeste do Brasil, alteração (e possível destruição) do ecossistema do Cerrado, impacto social e ambiental na região amazônica.
Segundo o professor Gandu, novos programas estão incorporando cada vez mais parâmetros para termos estudos mais precisos sobre o impacto da destruição da nossa grande floresta. Como eles, poderemos prever quais serão realmente as influências dessa mudança climática no ecossistema Terra.