São Paulo (AUN - USP) - A tecnologia dos trajes aquáticos é apenas um fator auxiliar no surgimento do recente fenômeno de quebras de recordes na natação na opinião do pesquisador Antônio Carlos Mansoldo. Ao contrário do que muitos esportistas alegam, Mansoldo, que é professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EFEE/USP), não considera o novo traje LZR Racer da Speedo uma revolução. Na verdade, “o maiô é um produto da evolução”.
O LZR Racer vinha sendo apontado como fator determinante para a obtenção de 18 dos 19 recordes mundiais batidos de forma contínua e surpreendente apenas no início de 2008. O maiô conta com uma nova tecnologia de flutuabilidade, fato criticado por alguns esportistas que vêem nisso uma espécie de doping. Entretanto, de acordo com Mansoldo, o traje apenas vem evoluindo como todos os equipamentos no esporte. Não é o simples fato de utilizar um bom maiô que fará do atleta um bom nadador, o traje “é apenas um acessório de qualidade”, como afirmou o pesquisador.
Além disso, a evolução tecnológica não está empregada apenas nos trajes aquáticos, mas também em todos os campos que influenciam na natação, desde o tratamento das piscinas às pesquisas em fisiologia e biodinâmica. “Não se pode deixar de lados essas multidisciplinaridades” como outros fatores complementares para a obtenção desses resultados expressivos.
A continuidade de quebras de marcas, contudo, não tira o prestígio do feito. Somente nadadores acima da média alcançam essa proeza. “Esse fenômeno dos recordes na natação é uma pequena turbulência, é um momento de interfase de acomodações de resultados”, segundo Mansoldo. É provável que essa seqüência de recordes seja seguida por um longo período sem novas marcas mundiais.
A tese de Mansoldo se apóia em acontecimentos históricos recentes, visto que o mesmo fenômeno ocorreu próximo às olimpíadas de Sydney no ano 2000 quando novas tecnologias foram introduzidas na natação. Um exemplo dessas inovações foi o lançamento do traje Fastskin também da Speedo, o qual simulava a hidrodinâmica da pele de tubarão.
A grande diferença entre esses dois fenômenos históricos, porém, está no mercado ao invés de na tecnologia. Isso se deve ao fato de o lançamento do LZR Racer ter ocorrido muito próximo às olimpíadas de Pequim em 2008, o que impossibilita a quebra de patentes, gerando uma dependência tecnológica a uma única empresa.
Essa dependência não acarretaria em dilemas esportivos caso todos os nadadores tivessem acesso ao novo maiô. Todavia, há atletas patrocinados por outras empresas de trajes esportivos, os quais entraram na piscina já em desvantagem psicológica, tendo em vista que a patente da Speedo impossibilita que outros concorrentes alcancem o mesmo patamar tecnológico. Obviamente, tudo isso não aconteceu por um mero acaso de datas. O que vemos é o mercado interferindo na natação.