São Paulo (AUN - USP) - O Instituto de Matemática e Estatística da USP é responsável por organizar, junto com a Sociedade Brasileira de Computação, a Maratona de Programação, que seleciona alunos dos cursos superiores na área de computação para representar o Brasil nas Finais Mundiais do ICPC, International Collegiate Programming Contest, o maior evento do mundo na área.
Cada faculdade seleciona os times que irão participar das seletivas regionais, de onde sairão os finalistas nacionais. Ao todo, 30 times disputam essa fase, porém poucos irão para a etapa internacional: o número de vagas depende da quantidade total de alunos inscritos e geralmente não ultrapassa cinco equipes.
O IME conseguiu a medalha de ouro na etapa nacional da Maratona 2007/2008, junto com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica e o Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (são distribuídas três medalhas de ouro, três de prata e quatro de bronze), garantindo pela quinta vez sua vaga nas Finais Mundiais, que serão realizadas em abril, na cidade de Banff, Canadá. Esse país já trouxe sorte para o Brasil: em 2001, o IME conquistou a medalha de bronze da competição, o maior feito de uma equipe brasileira na ICPC. Também levarão a bandeira brasileira as outras instituições que conquistaram medalha de ouro na Maratona e a Unicamp, que conquistou a primeira das medalhas de prata. As Finais Mundiais da Maratona de 2008/2009 serão realizadas na Suécia.
As restrições da Maratona não são motivos para deixar de competir. Para os mais novos, existe a Olimpíada Brasileira de Informática, que é voltada para os estudantes e recém-egressos do ensino médio, esse é o caso de Alberto Bueno Júnior, de 17 anos, que saiu direto do terceiro ano para o curso de Bacharelado em Ciências da Computação do IME. Para ele, a Olimpíada significa aprendizado e contato com pessoas: "É a primeira vez que participo de uma competição, quero aprender o máximo que eu conseguir". Os vencedores ganharão um Curso de Programação, no Instituto de Computação da Unicamp e ainda podem representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Informática. Existe também o site Topcoder que organiza competições on-line sem restrições de idade e oferece até 50 mil dólares para os primeiros lugares.
Desafio vira diversão
No primeiro treino do IME para a Maratona, o clima era de brincadeira. O estudante de Ciências da Computação, Arthur Gabriel de Santana confessa: "Os problemas são difíceis, mas divertidos de resolver - quando você consegue". Programar, para os Computeiros (ou "garotos de programa", como carinhosamente se autodenominam) é uma paixão. Carlos Duarte do Nascimento, Bacharelando em Matemática Aplicada e Computacional, não pode participar mais das maratonas (existem restrições quanto à idade e ano de ingresso no curso), mas é incisivo: "Inexplicavelmente, você mais do que simplesmente gosta; a coisa faz parte do que você é".
Wanderley Guimarães da Silva, mestrando em Computação, aprecia tanto o evento que, mesmo não podendo competir, continua freqüentando a Maratona: após participar de três, ele é, desde o ano passado, o treinador das equipes que representarão o IME na Maratona e nas Finais Mundiais. Para ele é difícil explicar o motivo de tanta paixão. “É um desafio. As pessoas ficam extremamente motivadas". A experiência da Maratona é enriquecedora porque além de se entrar em contato com pessoas de todo o Brasil que também programam, o aluno "coloca em prática todo conhecimento que aprende na universidade e ainda tem que correr atrás pra aprender mais coisas".
Mas, no IME, a diversão não é desculpa para displicência: dedicação e esforço são cobrados. Para conseguir um bom resultado não basta ser o aluno que tira notas altas, os problemas são bem mais sofisticados do que os aprendidos em aula. "Os melhores vão treinar, vão pra casa pensar e resolver os problemas e aqueles que não conseguirem, irão atrás para aprender. São esses que vão passar pra segunda fase", alerta o treinador. Entre os treinos, está prometida também uma espécie de retiro espiritual para os que passarem para seletiva regional. Os alunos ficarão uma semana em alguma fazenda apenas estudando, programando, "brincando", como definiu Guimarães.
Além de raciocínio, criatividade e capacidade de trabalhar em equipe, é cobrado dos alunos um bom preparo emocional: a cada problema resolvido, a organização amarra uma bexiga no computador da equipe, reforçando a tensão no ambiente.
Os treinos, essencialmente, serão nos mesmos moldes da competição: será aplicada uma prova, com certo número de problemas, em diferentes graus de dificuldade, e cada equipe (composta de três alunos) terá cinco horas para resolver o maior número possível, utilizando apenas um computador e alguns livros. No treino, porém, a quinta hora será destinada a discussão e resolução dos problemas, pois, segundo Guimarães, a maior dificuldade dos alunos está em compreender o enunciado. A estratégia será conseguir destrinchar a história que disfarça o problema real, e entender o que está sendo pedido objetivamente. "Muitas vezes existem idéias bem elegantes por trás dos problemas", explica o treinador.