São Paulo (AUN - USP) - As escolas médicas passam por um momento difícil de abandono, proliferação desordenada, mercantilização do ensino. Essa foi a opinião do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Edson de Oliveira Andrade, que fez coro com os demais presentes do seminário “O Futura das Escolas Médicas no Brasil”. O evento, segundo o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), José Luiz Gomes do Amaral, representou a união de toda a sociedade relacionada a ensino médico. “Hoje vivemos um momento importantíssimo e emblemático”, garantiu.
O seminário em que foi discutida a situação das escolas médicas no Brasil aconteceu na sexta-feira, dia 04 de abril, no teatro da Faculdade de Medicina da USP. O evento começou com atraso de 40 minutos que se refletiu durante todo dia. Apesar da pressa e da supressão dos intervalos, o encontro foi produtivo. Ele foi organizado pela Associação Brasileira de Educação Médica, AMB, CFM e pela FMUSP.
As críticas às aberturas de faculdades de Medicina pelo país foram muitas e de todas as partes presentes. Há a sensação, no meio médico, de que as escolas e o alto número de vagas que são abertas vão na contra-mão da excelência. A formação de médicos exige um alto padrão de qualidade, por lidar com a vida dos pacientes. Salas lotadas, faculdades sem hospitais próprios ou conveniados e professores sem experiência médica não contribuem com essa formação. Entretanto, essa é a realidade do país. O problema é ainda mais grave entre as faculdades mais novas, especialmente as particulares.
O deputado Arlindo Chinaglia, médico e presidente da Câmara dos Deputados, destacou “é imutável a absoluta necessidade do médico bem formado”. Além dos riscos óbvios à vida dos pacientes, o médico mal formado encarece o sistema público de saúde. A maior dificuldade ao impedir que escolas médicas ruins sejam criadas, no entanto, é porque “a lógica de abertura de faculdades encontra eco na sociedade”, afirma o deputado. As pessoas querem que o Brasil forme mais médicos, pois não há atendimento adequado a todos. Para garantir a qualidade da educação dos profissionais é, portanto, necessário abrir o diálogo com a população. “Se não ganharmos o debate na sociedade, não é fácil ganhar essa batalha”.
O Brasil tem 175 faculdades de medicina. Noventa foram abertas nos últimos dez anos. Mas, para isso, caiu o nível de qualidade. Chinaglia relatou que a Comissão de Educação estava, na época, “repleta de pessoas que transformaram o ensino superior em fonte de lucro”. A situação foi ainda mais drástica em faculdades particulares, sobretudo as de Medicina.