São Paulo (AUN - USP) - A mostra de xilogravuras da artista plástica Isa Aderne fecha, pelo menos neste ano, o projeto de exposições e publicações da professora Mayra Laudanna, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). Na verdade, uma de suas maiores preocupações é tirar a gravura do anonimato. "O papel é muito mal considerado no Brasil" quando comparado a telas de pintores famosos, argumenta Mayra.

Outro objetivo é trazer artistas pouco conhecidos para São Paulo, fomentando o intercâmbio das diferentes culturas que compõem o mosaico brasileiro. Isa, porém, possui notoriedade no meio. Tanto que na década de 60 chegou a dar aulas no Uruguai, onde, diante das violentas repressões do governo local, incorporou a temática política à sua obra. Formada pela Escola Nacional de Belas-Artes, sempre se incomodou com o cabresto imposto pelo academicismo. Uma das maiores provas disso é a escolha do cotidiano e das mazelas sociais como mote de sua produção, que retrata pessoas comuns.

Mayra também procurou desvendar o universo de criação da artista. Segundo ela, Isa não parte de projetos pré-concebidos, e se vale basicamente de histórias do dia-a-dia. Os desenhos são feitos diretamente na madeira que, depois de irrigada com a tinta e prensada contra o papel, dá origem à xilogravura. Como complemento às exposições anteriores, Mayra também publicou livros, em forma de entrevista, focando o processo criativo dos artistas. Além de coordenar o projeto, a professora também é responsável pela curadoria das mostras. Essa é uma questão muito delicada, em sua opinião, porque ela entende que o curador não deve ser confundido com um decorador, já que seu trabalho envolve pesquisa sobre a obra em exposição.

O gosto de Mayra por gravuras é antigo. Na verdade, ele foi quase um empecilho para seu trabalho como estudiosa de arte. "Tinha medo de misturar minha paixão com a crítica", explica. Um dos maiores atrativos da gravura, segundo ela, é a rica diversidade, pois pode ser feita a partir de madeira, pedra, ou metal. Existem ainda algumas imagens construídas por meio de computadores. Além disso, "é uma arte para muitos, porque não existe um original, mas vários", pois, partindo do mesmo suporte, várias imagens são obtidas. A mostra de Isa Aderne vai até 22 de fevereiro de 2002, e a entrada é franca.