ISSN 2359-5191

05/12/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 16 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Pesquisas Energéticas
USP controla risco nuclear brasileiro

São Paulo (AUN - USP) - O Brasil não tem bombas atômicas. Mas nem por isso está totalmente livre do perigo nuclear e radioativo. O uso de energia e materiais nucleares nas atividades tecnológicas de centros de estudo, laboratórios médicos, indústrias etc, libera resíduos para o meio ambiente: são os radionuclídeos. Para tomar conta deste "lixo", o Ipen - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP - possui o Departamento de Radioproteção Ambiental. Ligado à Diretoria de Segurança Nuclear do instituto, ele faz medições diversas de radioatividade a fim de controlar o seu nível. O monitoramento começa pelas instalações do próprio Ipen.

Um exemplo: Ana Maria Pinho Leite Gordon, mestra em Ciência e Tecnologia Nuclear, conduz pesquisa das condições metereológicas no Ipen e arredores. Através de uma estação metereológica de 30 metros e três níveis de medida, ela capta dados sobre pressão atmosférica, umidade do ar, temperatura, velocidade e direção dos ventos, que entrarão como parâmetros em uma equação de dispersão atmosférica. "Esta equação vai permitir simulações de emissões de radiofontes, que são o conjunto dos efluentes radioativos - água e ar dispersos por um reator - em determinadas condições físicas", explica Ana Maria.

As pesquisas englobam também áreas ambientais externas e empresas, como a Sabesp. Por meio de um convênio com a estatal paulista do setor de saneamento básico, estudou-se a radioatividade presente na água destinada ao consumo da população. Os resultados foram positivos, o que quer dizer que os limites estabelecidos pela legislação não foram atingidos. Uma outra pesquisa relacionada à água, feita em conjunto com o Instituto Oceanográfico da USP, verifica as descargas de águas subterrâneas no litoral de São Paulo, pela medição de dois elementos radioativos do meio ambiente, o rádio e o radônio. De acordo com Bárbara Mazzilli, doutora em Radioquímica e chefe do Departamento, o maior fruto destas pesquisas é a geração de conhecimentos, expressa em publicações em periódicos nacionais e estrangeiros.

A área de segurança radiológica do Ipen ainda tem por atribuição estocar rejeitos radioativos. O governo federal ainda não definiu a construção de repositórios definitivos para o "lixo" nuclear, portanto instituições de todo o país mantêm depósitos intermediários. No Ipen estão guardados 1200 tambores, contendo 250 metros cúbicos e atividade estimada de 220 TBq. Bequerel (Bq) é a unidade de medida da potência radioativa, e um terabequerel (TBq) é a soma de 1000 Bq. O potencial armazenado no Ipen é quase cinco vezes maior que o liberado no acidente radioativo de Goiânia, em 1986, envolvendo o césio 187. Apesar disso, não há risco algum para a comunidade uspiana. Aliás, lembra Ana Maria, nem toda a radioatividade existente é resultado da ação humana. Há a radiação solar, a que provém de minerais do interior da Terra e até uma variante radioativa de potássio componente do nosso corpo. Em condições normais, apenas 33% das radiações são devidas a fontes artificiais. Desta porção, cerca de 90% decorrem de radiografias e outros exames médicos. O restante sim - 3% do total geral - é que são resíduos saídos de reatores e equipamentos industriais. Parece pouco, mas por se acumular em determinados locais, ao contrário da radiação natural que se encontra difundida por todo o planeta, este "lixo" constitui questão séria. Para se ter uma idéia, a usina de Angra I, geradora de 660 MW ou 0,5 % da produção brasileira de eletricidade, produz 25 toneladas anuais de resíduos.

Outro serviço disponibilizado pela área é o Atendimento à Emergências Radiológicas e Nucleares. Quaisquer eventualidades com material radioativo - perda, achamento, furto, violação de embalagem etc - são atendidas por técnicos especializados no tel. (011) 3816-9000. O atendimento ocorre 24 horas por dia para todo o estado de São Paulo.

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