São Paulo (AUN - USP) - O comércio ilegal de drogas e armas são temas abordados de forma exaustiva pelos meios de comunicação. Porém, apesar de sua importância, o tráfico de animais não recebe a devida atenção dos noticiários. Terceira maior atividade ilícita do mundo, a venda de animais silvestres sem autorização movimenta cerca de US$ 20 milhões por ano em todo o planeta e o Brasil é responsável por aproximadamente 15% deste montante. Esse foi o tema da palestra ministrada pelo médico veterinário e técnico do IBAMA Miguel Bernardino dos Santos no último mês na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
O Brasil é um dos países que mais sofre com o tráfico de animais. Por conta da variedade de ecossistemas, o país possui uma grande biodiversidade e isso atrai colecionadores de diversas partes do mundo interessados em comprar exemplares de espécies nativas. Essa procura por animais brasileiros faz com que muitas pessoas se utilizem da fauna silvestre nativa para ganhar dinheiro.
O órgão responsável pela fiscalização da utilização dos recursos ambientais no Brasil é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA). Porém, essa autarquia federal sofre com problemas administrativos e políticos, o que dificulta muito o cumprimento de suas funções. “O IBAMA passa pelas chamadas ingerências políticas. Isto é, quando pessoas que não entendem nada do assunto mas que, por parentesco com pessoas de partidos, viram presidentes, chefes e resolvem dizer que são capazes de controlar e de tomar conta do meio-ambiente”, conta Miguel dos Santos.
Essa forma de tráfico é extremamente nociva para o país. O mais óbvio risco dessa atividade é a ameaça à biodiversidade, uma vez que, se uma espécie passar a ser retirada de seu ecossistema, este entra em colapso. Além disso, quando esses animais são introduzidos nas cidades, podem transmitir doenças e causar epidemias. Isso sem contar a evasão de divisas, já que o dinheiro oriundo do tráfico não é declarado.
Outra questão importante é quem realmente lucra com o comércio ilegal de animais: “O caçador ganha R$ 40 por ave capturada. O máximo que ele conseguia é R$ 400, mas os pássaros chegam a São Paulo e são vendidos por até R$ 15.000. Será que o Brasil quer mesmo acabar com o tráfico? O que o Brasil realmente quer? Se as leis trazem exigências que não têm como ser cumpridas, qual é a intenção?”, questiona Miguel.