São Paulo (AUN - USP) - Não basta ter dinheiro, é necessário saber gastá-lo. Esse é um dos principais conselhos que Gustavo Cerbasi, professor e autor de diversos livros sobre o assunto, deu durante a edição ExpoMoney: Jovens Investidores. O evento ocorreu recentemente, pelo segundo ano consecutivo, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) em São Paulo.

O crescimento da classe C, apontado em pesquisas recentes, tem gerado impacto na economia por meio do consumo. Essa nova situação se deve, principalmente, a fatores como aumento do crédito disponível no mercado, à diminuição de preço dos bens duráveis e aos programas sociais do governo. À primeira vista isso é positivo, pois movimenta o setor produtivo e demonstra que parte da população mais pobre do país melhorou de vida. No entanto, não quer dizer que daqui a uns anos essa situação irá se sustentar. Para Cerbasi, a abundância de dinheiro pode significar o aumento da escolha por gastos errados. O principal vilão do orçamento das pessoas aqui no Brasil são os juros. Estudos revelam que os juros podem corresponder até, aproximadamente, a 30% daquilo que o brasileiro gasta. No entanto, comprar parcelado é uma boa opção de acordo com a opinião de muitos consumidores.

Francisca de Souza, recepcionista de uma empresa em São Paulo, comprou uma geladeira há seis meses e conta que ainda irá pagá-la por mais 12. Segundo ela, o produto em questão não era uma necessidade imediata, mas a preferência pelo modelo mais novo antecipou a troca que ocorreria mais cedo ou mais tarde. Quando questionada sobre a decisão de comprar a prazo ela responde: “o salário é curto e a geladeira é cara, não cabe no orçamento. Para mim é melhor pagar aos poucos, mesmo que um pouco mais caro”. À vista a geladeira sairia por R$ 1899,00, já o financiamento feito para o período de um ano gerou parcelas mensais de R$ 169,00 (5,9% de juros ao mês). Apesar do parcelamento ser muito mais acessível, os juros embutidos renderam um acréscimo de R$1143,00 ao preço original. O ideal, de acordo com especialistas, ainda é comprar à vista. Se Francisca tivesse guardado o dinheiro e adquirisse a geladeira daqui a um ano, além de não pagar juros poderia, inclusive, pagar mais barato. Nem sempre o consumidor analisa os gastos.

Aprender a gastar
Para lidar melhor com o seu dinheiro, Gustavo Cerbasi dá algumas dicas. A primeira delas, ponto inicial do planejamento, é estabelecer quais são seus gastos básicos, tais como saúde, alimentação, transporte e, inclusive, lazer. Sim, é necessário destinar uma verba para as coisas que dão prazer, seja ir ao teatro, comprar roupa, jantar fora etc. Apesar de muitas pessoas classificarem isso como supérfluo, o professor defende a idéia de que estes gastos são essenciais à vida porque fazem com que ela tenha um sentido.

O passo seguinte é estruturar seu orçamento baseado naquilo que você definiu como necessário. Se o dinheiro não for suficiente, fato comum no Brasil, tente avaliar o que poderia ser modificado e estabeleça metas. Estipular objetivos é fundamental na área financeira e, segundo Cerbasi, a maioria das pessoas quer ter dinheiro mas “não sabe aonde quer chegar”.

Há 15 anos o país passava por um momento de incertezas que não permitia a elaboração de um planejamento financeiro, os preços oscilavam bem como o cenário político. Felizmente a situação atual é outra e, organizar o orçamento tornou-se algo possível, na verdade, fundamental para todos. E o professor explica o porquê: “Você interfere diretamente na economia quando gasta mal o seu dinheiro”.