São Paulo (AUN - USP) - "O dualismo cartesiano tirou a alma do corpo" e, assim, por três séculos, "a medicina esteve restrita à biomedicina". Essas palavras do professor Marcos Boulos, titular de doenças infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sobre a separação histórica entre física e metafísica, ilustram o propósito da discussão sobre o elo entre "Emoções e Doenças", tema de sua palestra proferida no seminário "Desafios da Saúde Pública (Passado, Presente e Futuro)", na Faculdade de Saúde Pública da USP, recentemente.
"É difícil, no mundo objetivo em que vivemos demonstrar o caráter científico dos estudos sobre as emoções", alertou o professor no começo da palestra, ao lamentar uma descrença generalizada na importância da conexão entre o que se usou denominar, ao longo da história, "corpo" e "alma". Citando o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, para quem "A separação entre psicologia e biologia é puramente artificial", Boulos trouxe diversos exemplos de estudos científicos em que se considera a influência de fatores como tristeza e estresse na evolução de enfermidades.
Camundongos que, submetidos a estresse, têm agravamento de suas infecções; a interferência de sintomas depressivos crônicos sobre o número de mortes entre mulheres com HIV; o elevado nível das taxas de mortalidade entre viúvos: são todos resultados de pesquisas recentes feitas por instituições de peso mundo afora.
O professor Boulos trouxe, igualmente, conclusões favoráveis à tese de que emoções positivas também interferem nos quadros e podem colaborar na cura de doenças: carinho, preces e otimismo, segundo esses estudos, resultam em diferenças sensíveis na melhora dos pacientes. "O otimista evolui melhor que o pessimista", afirmou o professor. No caso de quadros graves como o HIV e o câncer, "às vezes a pessoa começa a melhorar justamente por perceber que não é imortal".