São Paulo (AUN - USP) - O conhecimento popular diz que 37 graus Celsius é indicação certa de febre. Mas isso pode não ser sempre verdade. Certas variações no corpo, como temperatura e concentração de hormônios, são absolutamente regulares. Dentro de um ciclo de 24 horas, o organismo muda a cada instante. Segundo a pesquisadora Gisele Akemi Oda, do Instituto de Biociências da USP, que estuda os ciclos biológicos, um homem saudável deve apresentar um padrão de variações no organismo semelhante todos os dias. Regido pela luz do sol, esse padrão é favorecido pelo estabelecimento de uma rotina. Uma criança que tenha um horário de sono irregular, por exemplo, pode ter a atuação do hormônio do crescimento comprometida, já que ela se dá de maneira concentrada à noite.
Desobedecer a esse padrão, como faz quem troca o dia pela noite, pode gerar graves riscos de saúde. "Existe toda uma série de doenças que atingem trabalhadores noturnos, como a depressão e até e até propensão a ataques cardíacos favorecidos por alimentação em horários errados", diz a pesquisadora. De modo semelhante, pessoas que viajam muito, como aeromoças, sofrem com a rápida e freqüente alternância entre o claro e o escuro e chegam até a apresentar antecipação da menopausa.
Gisele afirma que o estudo desses ciclos biológicos, a chamada cronobiologia, faz com que seja possível um melhor aproveitamento da rotina diária. "Existem horários de melhor performance da memória, do aprendizado e em que estamos mais alerta". Uma aplicação prática, por exemplo, é no estabelecimento de horários para a medicação: "sabendo-se o horário em que o remédio vai agir de modo mais eficaz, toma-se uma quantidade mínima e fica-se sujeito a menos efeitos colaterais".
Apesar de ser a mesma para espécies iguais, os ciclos biológicos diferem quanto à idade. Não é surpresa para mães que bebês acordem várias vezes na madrugada chorando para serem alimentados. "Para eles, ainda não há o dia nem a noite, o corpo precisa ajustar o seu ciclo", diz. Atitudes comuns de deixá-los isolados da luz e do som enquanto dormem durante o dia tendem a retardar essa regulação.
Mais tarde, na adolescência, o corpo adquire um novo ciclo. É errado pensar que a rotina diferente dos jovens, que preferem dormir e acordar tarde, é fruto apenas de um estilo de vida que se identifica com a vida moderna. Em pesquisas com comunidades indígenas, os mesmos comportamentos foram encontrados. "Esse pensamento (errado) se reflete nas escolas: colocam o jovem de manhã e as crianças à tarde. Deveria ser o contrário, o jovem tem seu pico de aprendizado à tarde", diz. Segundo ela, há muitos adolescentes que resolvem esse problema quando trocam de turno.
O último período da vida em que os ciclos tendem a se alterar é na terceira idade. Essas alterações devem-se, em grande parte, ao desligamento social pelo qual passam muitos aposentados. Para a pesquisadora, o mais importante a ser mantido é o horário do sono e da alimentação, que são os principais coordenadores do ritmo básico. De alterações muito bruscas costumam aparecer quadros de depressão. Ela cita o bom exemplo das freiras que, com uma rotina regrada, segundo uma pesquisa, têm uma vida longa e saudável.