São Paulo (AUN - USP) - A atual crise econômica nos Estados Unidos tem um ponto diferencial em relação a outras: o abalo no sistema de crediário. Com a diminuição da oferta de crédito e a queda do consumo, a recuperação da economia americana torna-se mais difícil. Nas palavras do consultor financeiro Yako Alexander K. Chirou, que ministrou uma palestra sobre o tema na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), “essa crise pode ser comparada a uma doença que ataca diretamente o sistema de defesa [o crédito]”.
Em janeiro, o governo americano implantou medidas de incentivo ao consumo como, por exemplo, a redução de impostos. E, no final de março, anunciou um plano econômico que prevê, dentre outras ações, uma maior fiscalização dos fundos de investimentos. No entanto, para os especialistas, as conseqüências disso na economia ainda não são certas nem imediatas. A previsão é de que haja uma melhora na situação a partir do segundo semestre deste ano e assim progressivamente em, pelo menos, dois anos. O fato é que, de alguma forma, a economia de outros países será afetada – alguns mais, outros menos. O consultor explica que depois do estouro da “bolha imobiliária”, ocorrido no meio do ano passado, “muitos dos investimentos [americanos] que estavam em outros países foram retirados para tentar sanar o rombo dos bancos nos Estados Unidos”. Além disso, ele comenta que parte das importações também foi cancelada – o que provocou a queda na bolsa de valores de países muito dependentes desse mercado.
A crise, que vem sendo tratada por alguns como a “crise do crédito”, é notada nos Estados Unidos não apenas no índice de consumo, mas na estrutura econômica de um modo geral. Dados divulgados no fim do mês passado demonstram que a inadimplência cresceu, bem como a taxa de desemprego em relação ao ano anterior. Algumas dessas informações já eram esperadas pela maioria dos economistas, mas em uma proporção menor. As diminuições no número de empregos e a taxa de consumo, somadas à inadimplência são fatores que afetam diretamente o setor produtivo. Todos esses elementos estão intimamente ligados de maneira cíclica à recuperação da economia, motivo pelo qual a crise é considerada complexa. E Chirou complementa “estamos tratando de uma situação delicada e, de certo modo, nova”.
O desenvolvimento da crise
A chamada “bolha imobiliária” foi motivada pela grande oferta de crédito e a baixa taxa de juros que, juntos, incentivaram o mercado de hipotecas. O problema maior, segundo os economistas, foi a falta de fiscalização dos hedge funds feita pelo Fed (Banco Central americano). Esse tipo de fundo não possui estratégias definidas e foi utilizada pelos bancos para investimentos novos e pouco seguros – isso gerou um enorme lucro para as empresas financeiras e, também, incentivou o mercado especulativo.
Todo esse sistema, exposto de modo muito simplificado no parágrafo anterior, era sustentado pelo pagamento das hipotecas. A partir do momento em que a maioria das parcelas deixou de ser paga pelos compradores dos imóveis, os bancos começaram a ter prejuízos. No meio do ano de 2007 a crise foi anunciada, pois todos os investimentos feitos a partir do capital especulativo se tornaram insustentáveis. O rombo econômico ocasionado pelo setor de financiamento imobiliário obrigou o governo americano a mobilizar fundos para salvar os bancos. Desde então os Estados Unidos passam por um período de recessão, pois a população de um modo geral está cortando gastos para pagar as dívidas contraídas no período de desenvolvimento da crise. O resultado disso é a queda do consumo e conseqüentemente, o comprometimento do sistema econômico americano.