ISSN 2359-5191

28/04/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 26 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Saúde bucal previne doenças cardíacas

São Paulo (AUN - USP) - A Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, FOUSP, vem divulgando o XIV Simpósio de Odontologia em Cardiologia. O Simpósio será ministrado pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, SOCESP, no dia 3 de maio e terá como um dos temas a ser abordado durante o congresso a “Nova profilaxia para endocardite infecciosa”, doença cometida 40% das vezes por uma bactéria bucal.

Em abril de 2007, a Associação Americana de Cardiologia publicou as diretrizes daquele ano, dentre elas a AHA (American Heart Association) avaliou que para o pequeno grupo de pessoas com endocardite a profilaxia antibiótica durante o tratamento odontológico seria desnecessário. Esta foi considerada muito radical, afirmando que o risco de choque anafilático – alergia ao medicamento – seria maior do que o desenvolvimento da endocardite, pois os pacientes não a desenvolvem normalmente durante o cuidado bucal, somente os pacientes de alto risco, que são os que já possuem uma prótese valvar, aqueles que já tiveram endocardite alguma vez, ou aqueles que têm uma valva nativa reumática não precisa de profilaxia antibiótica.

Mas no Brasil, o cenário é diferente, explica a médica Itamara Lucia Itagiba Neves, da Unidade de Odontologia do Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas. “Os casos de endocardite aqui são numerosos e graves. Também lá [nos EUA] eles não tem os problemas de saúde bucal que temos aqui. São realidades diferentes e o que decidem lá não vale pro Brasil necessariamente.” Segundo ela, houve um consenso no Brasil de que não deveria se mudar a conduta em relação a profilaxia antibiótica, continuou-se seguindo as diretrizes de 1997.

A endocardite é apenas um exemplo da relação entre cardiologia e odontologia. É uma cardiopatia muito relacionada à saúde bucal, na qual o foco de bactérias bucais é responsável, cerca de 40% das vezes, por uma infecção no coração. Pode ter o início em uma febre reumática, por exemplo, esta é uma doença que acomete crianças entre 5 a 15 anos, começa com uma infecção na amígdalas e se desenvolve deixando seqüelas cardíacas, pois no Brasil ela ainda não é muito tratada, não é diagnosticada e muitas vezes as crianças recebem a medicação errada. Também há o caso de crianças com cardiopatia congênita, ou seja, nascem com alterações na parte interna do coração.

Por causa da presença dessas bactérias no corpo humano, os anticorpos identificam o tecido da valva cardíaca como sendo a bactéria e a atacam. Essa valva fica alterada, tornando-se espessada e enrijecida, mas em nenhum momento essa modificação é detectada pelo organismo humano. Não há sintomas, pois o coração continua a funcionar o mais comum diagnosticar a valvopatia 20 anos depois.

A seqüela valvar permanece e, com o tempo, isso altera a passagem do sangue pelo coração, lesando e expondo o tecido valvar. Se houver a presença de bactérias na corrente sanguínea – por infecção urinária, vias aéreas, epitelial, ou bucal - as bactérias vão entrar na corrente sanguínea, caracterizando uma bacteremia e se encontrarem uma valva lesada conseguem se alojar e começam a colonizar. A endocardite infecciosa é causada desse modo 90% das vezes.

Há uma grande preocupação com a saúde bucal, nesse sentido, pois a realização de hemocultura em pacientes com endocardite demonstrou que o Streptococcus viridans é o principal causador dessa cardiopatia, sua incidência varia de 30% a 40%%. Esta é uma bactéria que reside normalmente na cavidade bucal e que quando consegue entrar na corrente sanguínea tem uma grande capacidade de se aderir ao tecido do coração. Há outras doenças bucais que causam bacteremias, mas que não tem capacidade de aderir às valvas.

Sobre a profilaxia, Itamara afirma que “A melhor forma de prevenir a endocardite é ter saúde bucal, não ter uma porta de entrada para as bactérias. Há situações em que a entrada é provocada, por exemplo, quando o dentista faz raspagem, extração, uma cirurgia de gengiva, são procedimentos que sangram. Mas como se sabe previamente que isso acontece, quando estes procedimentos são realizados em pacientes que tem risco de endocardite, uma hora antes do tratamento é dada uma dose do antibiótico, ao qual o Streptococcus viridans é sensível. Não há preocupação com a infecção bacteriana, mas com a entrada das bactérias na corrente sanguínea. É uma dose alta e única para que na hora do procedimento odontológico o nível do antibiótico na corrente sanguínea seja alto para que quando haja a entrada das bactérias o antibiótico já está lá, diminuindo o risco das se alojarem e causarem endocardite”.

A médica ainda reforça que, no Brasil, a profilaxia antibiótica não pode ser abandonada. “Há 31 anos, nosso serviço está aqui, e utilizamos o derivado de penicilina, na maioria dos casos, como antibiótico. Nunca tivemos caso de choque anafilático, porque na conversa com o paciente vemos se há possíveis riscos de alergia, quando isso é diagnosticado usa-se outro tipo de antibiótico. Também não há paciente que tenha realizado tratamento odontológico que tenha pego endocardite.”

Defende novamente o uso do antibiótico antes do procedimento odontológico ao afirmar que “O número de pessoas que desenvolve endocardite é mínima, só que se for um caso entre mil, é um caso. Se vai dar antibiótico com cuidado e discernimento, não há problema. É uma doença séria com 30% de chances de mortalidade, ataca rápido e possui um diagnóstico demorado, quando o paciente percebe, já chega em uma situação bem complicada, com a valva muito danificada”.

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