São Paulo (AUN - USP) - Nos últimos três anos, com o apoio do CETESB (Centro Tecnológico de Saneamento Básico), o Instituto de Astronomia e Geofísica da USP (IAG) tem pesquisado o ar poluído da região urbana de São Paulo: a origem da poluição, seu transporte na atmosfera, efeitos que ela causa na saúde, suas propriedades físico-químicas. O professor Pedro Leite da Silva Dias sugere as “medidas de compensações” como forma de amenizar a poluição das ruas de São Paulo. Elas consistem em estabelecer cotas para cada região e, as que não forem utilizadas, podem ser vendidas. O professor enfatiza que esse plano está funcionando muito bem na Europa e nos Estados Unidos, mas que no Brasil as autoridades ainda não se pronunciaram a respeito.
A professora Maria de Fátima Andrade também defende as cotas e explica que o comportamento dispersivo de poluentes na cidade se deve principalmente às chuvas: “os anos de 2000 e 2001 foram muito chuvosos. Esse ano, apesar do calor – que propicia a concentração de poluentes –, anda chovendo muito”. As precipitações seriam as responsáveis pelo transporte de partículas e gases do ar, garantindo à capital um ar de qualidade boa a regular.
Ar considerado regular pode causar problemas cardiovasculares
No entanto, uma experiência realizada recentemente por pesquisadores americanos e canadenses revelou que mesmo as pessoas saudáveis estão sujeitas à constrição de vasos sangúineos devido ao ar poluído. Os agentes seriam o material particulado (MP) e o ozônio, ambos originados da queima incompleta de combustíveis e, no caso do MP, também de queimadas e poeira.
A experiência agrupou 25 adultos saudáveis por duas horas, inalando MP e ozônio a uma concentração de 150 µg/m3 e 120 ppb (parte por bilhão), respectivamente. Esses números correspondem ao nível desses poluentes no período de tráfego mais intenso nas grandes cidades, segundo os cientistas. Ao final do teste, todos apresentaram um estreitamento de 2% a 4% da artéria braquial. A situação seria ainda mais grave para aqueles que já sofrem de algum problema cardíaco e vascular, tendendo a aumentar as chances de enfarto, por exemplo. Repetida a experiência, porém com ar filtrado, não se notou modificação nenhuma nos voluntários.
Segundo o doutor Robert Brook, um dos cientistas da Universidade de Michigan que encabeçaram as experiências, a EPA (órgão que monitora a qualidade do ar nos Estados Unidos) estabeleceu um nível de 65 µg/m3 como o máximo aceitável de MP e 120 ppb de ozônio. De acordo com os padrões fornecidos pelo CETESB, o padrão de qualidade do ar (PQAR) no Brasil é de, no máximo, 150 µg/m3 de material particulado e 160 ppb de ozônio. O PQAR foi aprovado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e pelo CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), ou seja, quando o indicador sinalizar “qualidade do ar: regular”, não é um dado preciso e universal, apenas instituído. Mesmo assim, a concentração de poluentes do ar regular pode ser suficiente para causar a constrição dos vasos sangüíneos.
“O nível da poluição pode ter diminuído, mas ainda não é o bastante”, lembra o professor Pedro Dias.
Para acompanhar diariamente a concentração de alguns poluentes em certos pontos de São Paulo, é só acessar www.cetesb.sp.gov.br.