ISSN 2359-5191

08/05/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 32 - Sociedade - Instituto de Estudos Avançados
Presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar refuta ataques ao etanol brasileiro
Marcos Jank diz que responsabilizar o etanol brasileiro pelo aumento do preço dos alimentos é acusação infundada

São Paulo (AUN - USP) - Defendendo os biocombustíveis, em especial o etanol brasileiro, Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), disse serem infundadas as acusações de que o etanol a partir da cana-de-açúcar seria o responsável pelo aumento do preço dos alimentos. A defesa ocorreu durante a palestra “Sustentabilidade em Biocombustíveis”, que abriu o “Ciclo de Debates do Programa Temático Ambiental sobre Sustentabilidade”, no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).

Os benefícios dos biocombustíveis são claros para Jank. Com o crescimento do setor no Brasil, por exemplo, foram gerados 1 milhão de empregos. E ainda há previsão de investimentos de US$ 30 bilhões no setor até 2012. 50% da necessidade de combustível para veículos leves foram substituídas por etanol usando apenas 1% da terra arada para o plantio da cana-de-açúcar e o etanol reduz em mais de 80% a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa se comparado com a gasolina. Além disso, o etanol a partir da cana é cinco vezes mais eficiente do que o etanol produzido a partir de milho. Entretanto, ele é alvo constante de críticas, principalmente nos últimos tempos, com o aumento no preço dos alimentos.

Para o especialista, as acusações levianas vêm das indústrias alimentícias e do petróleo dos países ricos, que vêem seus interesses serem afetados quando os países criam leis para o uso de etanol: nos EUA, a idéia é que até 2022 136 bilhões de litros de etanol (de milho e celulose) sejam usados, ou seja, uma substituição de 15% da gasolina. Já a Comissão Européia propôs que 10% dos combustíveis fósseis fossem substituídos (etanol a partir de celulose, trigo e beterraba).

Para difamar os biocombustíveis, em especial o brasileiro, começou a se vender a idéia de desmatamento intenso (principalmente da Amazônia), trabalho escravo e falta de alimentos. Ainda dizem que as intensas queimadas do material orgânico são ainda mais prejudiciais que a queima de combustíveis fósseis para a atmosfera. Jank defende o etanol de todas essas acusações, que diz não levarem em conta nenhum estudo profundo sobre o assunto. Quanto ao desmatamento da Amazônia, ele conta que não é necessário que as plantações de cana cheguem à Amazônia, pois não há logística adequada e o ambiente não é interessante à plantação. O clima é muito chuvoso. A expansão das lavouras ocorre em áreas de pastagem do Centro-Sul. Além disso, apenas 2% dos 2,9 milhões de km² utilizados pelo setor agropecuário são ocupados pela cana. E o que está aumentando é a produtividade, não a área utilizada para o plantio.

Quanto ao trabalho escravo, Jank diz que a Unica está discutindo ações com o governo e com os trabalhadores da área para melhorar as condições trabalhistas, podendo inclusive criar um selo de boas práticas trabalhistas, que estejam de acordo com a legislação. Quanto à acusação de que o biocombustível é responsável pela crise dos alimentos, Jank rebate que os críticos esquecem do impacto dos subsídios e do rápido crescimento da renda per capita nos países emergentes. Para ele, prejudicial é usar matérias-primas nobres como milho e canola para produzir etanol ao invés de substituir por cana-de-açúcar, mais barata e eficiente.

Já sobre a acusação que a queima do material orgânico usado no processo agrava ainda mais o problema ambiental, Jank diz que o Brasil avançou muito nesse sentido, pois parou de queimar o bagaço de cana. Este, junto com a palha da cana, está sendo utilizado para a produção de eletricidade. Desse modo, a usina não só produz etanol como produz energia elétrica (90% delas ainda produzem açúcar).

Batalha atual
Nas últimas semanas, uma grande batalha foi travada sobre os biocombustíveis quando a crise do preço dos alimentos se agravou. De todos os lados vinham acusações e defesas. Tudo começou quando Jean Ziegler, relator especial das Nações Unidas para o direito à alimentação, disse ser a fabricação de biocombustíveis um “crime contra a humanidade”. Foi o suficiente para que o governo brasileiro orquestrasse um plano de defesa. Lula logo disse que “verdadeiro crime contra a humanidade” era descartar fontes alternativas de energia. O governo ainda afirmou que "o que o mundo deve discutir é a eliminação total dos subsídios, e não a eliminação dos biocombustíveis", ou seja, atacou os pesados subsídios agrícolas por parte dos países ricos e pediu a volta da Rodada Doha para discutir a questão.

Além disso, posições negativas e positivas se multiplicaram pelo mundo. O The Independent, por exemplo, disse que o Brasil era “exemplo de desvantagem do etanol”. As acusações: etanol brasileiro está causando desmatamento da Amazônia e aumento da emissão de gases de efeito estufa. Já o Financial Times publicou um editorial que defendia o fim dos subsídios agrícolas, estes sim responsáveis pelo aumento do preço dos alimentos.

Em meio a esse debate, Jank disse que o diálogo é fundamental nesse caso. E nesse debate deve haver não só espaço para os compradores, mas para os produtores também. Além disso, mais pesquisas e estudos na área são necessários, pois muitas das acusações estrangeiras são infundadas. A análise de três fatores também se faz necessária: ambiental, social e econômico. Nenhum dos fatores deve ser esquecido nesse debate.

Ele ainda completou que o debate deve ser coerente e com base em dados concretos, em estudos aprofundados, pois atualmente predomina o lado emocional nas discussões.

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