São Paulo (AUN - USP) - A presença cada vez maior das máquinas no mundo alerta para a necessidade de se analisar, com mais atenção, a relação homem-computador, abordando, sobretudo, aspectos de confiabilidade e segurança. Esse é o trabalho desenvolvido por uma linha de pesquisa, coordenada pela professora Lucia Filgueiras, do Departamento de Computação e Sistemas Digitais, da Escola Politécnica da USP.
Segundo Lucia, há vários grupos que observam o mesmo problema, mas cada um sob um ponto de vista diferente. “O nosso é o da engenharia. Estudamos a relação homem-computador com o objetivo de melhorar o projeto”, esclareceu Lucia. O grupo desenvolve métodos de avaliação para identificar problemas nos sistemas.
Um dos métodos é o uso de laboratórios, onde candidatos a usuários reais são observados enquanto utilizam o equipamento. Há também a chamada usabilidade situada, que acompanha a operação dos sistemas em situações e ambientes reais. Já a técnica de inspeção, ao invés de focar nos usuários dos sistemas, reúne especialistas que, a partir da observação de um cenário, julgarão a qualidade do equipamento. Eles dão seu parecer a respeito das possibilidades de erros, da capacidade de sinalização e recuperação frente a um problema.
A linha de pesquisa direciona-se para a análise de diversas interfaces computacionais, entre elas, os chamados sistemas críticos. Estes são equipamentos que, teoricamente, não podem falhar, porque qualquer erro tem um impacto sério, seja no aspecto ambiental, humano ou, até mesmo, econômico. Podem ser apontados, como exemplos, os sistemas aeronáuticos, os de UTI e de centrais nucleares. Quando essas interfaces computacionais são estudadas, aborda-se, principalmente, a questão da confiabilidade.
Por outro lado, quando se analisa sistemas que não são considerados críticos, como, por exemplo, um website, o termo correto para designar o foco da avaliação é usabilidade, ou seja, o estudo busca constatar o quão fácil está para o usuário operar o equipamento. Segundo Lucia, a mediação entre o projetista do sistema e quem o utiliza é o melhor papel que essa linha de pesquisa pode desempenhar.
A avaliação dos sistemas é feita antes ou durante o uso do produto. Porém, uma vez que o equipamento já está sendo operado, torna-se mais difícil, sobretudo no aspecto financeiro, refazer o projeto. “O ideal é que o sistema seja avaliado pelo protótipo”, afirmou Lucia. A professora ainda alerta para a importância dessa postura preventiva, quando se tratam de sistemas críticos, porque, nestes, a falha de usabilidade pode causar danos irreversíveis.
Esses sistemas, inclusive, precisam passar por um processo de certificação para entrar no mercado. Por isso, os métodos de avaliação são freqüentemente aplicados pelos produtores desse tipo de equipamento. Por outro lado, no que diz respeito às empresas que não lidam com sistemas críticos, Lucia afirmou que, somente depois de muitos anos de experiência, elas percebem a importância de se conhecer os vários aspectos da relação homem-computador, como forma de melhorar seu produto e sua competitividade no mercado.
Quanto à relação da pesquisa com as empresas, Lucia afirma que ela não funciona como uma consultoria, nem destina-se a um órgão específico. O que, eventualmente, ocorre é que os alunos que participam do estudo trabalham para determinada empresa e se interessam pela pesquisa como forma de capacitação na área em que atuam. “As empresas acabam se beneficiando dos resultados, mas a pesquisa não é financiada por elas”, explicou Lucia.