São Paulo (AUN - USP) - “O Cinema é arte, indústria e tecnologia”. Foi assim que o diretor André Klotzel começou sua palestra sobre o “Processo de Realização de um filme no Brasil”, para estudantes, profissionais da área, e curiosos sobre o tema, na Estação Ciência. O evento abordou as problemáticas enfrentadas em nosso país, desde a idéia do filme à sua exibição nas salas de cinema, destacando que no nosso país, ninguém enriquece fazendo cinema.
O debate, que aconteceu recentemente, abriu um ciclo de palestras do chamado “Encontros do Conhecimento”, parceria entre a Estação Ciência - museu de ciências e tecnologias da USP – e a Secretaria Regional de São Paulo. A iniciativa tem como objetivo discutir com especialistas assuntos sobre arte, cultura, ciência e tecnologia. A sétima arte foi escolhida como primeiro tema a ser debatido.
André Klotzel é diretor, roteirista, produtor e editor cinematográfico e formado em Audiovisual pela USP. Seu primeiro longa-metragem foi “A marvada carne” – ganhador de 11 prêmios no Festival de Gramado, assistido por mais de um milhão de espectadores no Brasil e distribuído para mais de dez países. Que Klotzel é um entendedor de todo o processo de realização de um filme, não se tinha dúvidas. Todas as outras questões colocadas pelo público foram ouvidas e explicadas por ele. O bate-papo envolveu desde dúvidas sobre equipamentos técnicos, a questões mais conceituais sobre subjetividade e mercado.
O diretor afirma que a decisão de fazer um filme é pessoal e muitas vezes, é preciso abrir mão de muitos aspectos da idéia inicial, para conseguir levar o projeto para frente. “Tem que conseguir unir duas coisas conflituosas por natureza: a subjetividade e o interesse comercial da indústria”. Além disso, o Brasil não é um país de cultura cinéfila (apenas 7% dos brasileiros vão ao cinema). Portanto, sendo o mercado ainda restrito, o investimento nesta área é muito pouco. Nós produzimos cerca de 60 filmes por ano, enquanto a Índia, maior produtor de filmes do mundo, produz em média 700. Cerca de 95% dos filmes transmitidos na Índia são produzidos no próprio país. Lá, a produção não depende do Estado, é tudo privatizado.
Como fazer um filme chegar ao público? As maiores dificuldades apontadas por Klotzel durante todo o processo de realização de um filme em nosso país são as questões de captação de recursos (técnicos e financeiros) e da distribuição.
Normalmente, a captação de recursos se dá por intermédio de leis de renúncia fiscal para que haja o investimento no cinema. “É assim em todos os países que produzem filmes, menos os Estados Unidos, que são responsáveis por 80% da indústria”, afirma. O custo médio de produção de um filme no Brasil é de R$ 2,8 milhões, enquanto que nos EUA, esse valor ultrapassa os US$ 50 milhões.
Um produtor chega a passar dois anos captando recursos para que se possa começar a produzir, de fato. Essas dificuldades, segundo Klotzel, são enfrentadas em vários outros países, mas em diferentes graus e, no Brasil, como há pouco investimento na área, essas dificuldades são em um grau bastante significativo. Para concluir, o diretor afirma que quem mais lucra com essa indústria são os distribuidores.