São Paulo (AUN - USP) - Questões polêmicas como o uso da camisinha, a AIDS e as pesquisas com células-tronco embrionárias foram discutidas recentemente em um debate no Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB) pelo frei dominicano Oswaldo Augusto Rezende Junior e pelo professor Marcus Vinícius Chrysóstomo Baldo.
Quando questionado a respeito do conservadorismo das religiões diante de assuntos polêmicos, o frei afirma que “as religiões são conservadoras em um sentido prudencial” e por isso há uma resistência válida a algumas práticas e experiências científicas. Para ele, essa prudência com que as religiões – no caso a católica - tratam certos temas deve-se também ao conteúdo dos segredos dos fiéis que são revelados nos confissionários.
Em relação à liberalização do uso da camisinha e de outros métodos contraceptivos Chrysóstomo acredita que são meios extremamente válidos não apenas para a prevenção de uma possível gravidez, mas também para que grande parte da espécie humana seja protegida de doenças, como a AIDS, que podem acarretar em números elevados de mortes. O frei Oswaldo Rezende enfatiza, entretanto, que o uso de métodos contraceptivos favorece a “manipulação do sexo” e o papel das religiões é “alertar contra a banalização do ato sexual, lembrando que a finalidade do ato sexual é procriar e todos os obstáculos a isso vai contra a natureza”.
Ao tratar das pesquisas com células-tronco embrionárias, o frei Oswaldo Rezende defende a concepção como o momento em que há o surgimento de uma vida e afirma que “o ser humano, desde o primeiro momento em que se mostra como tal, é um sujeito de direitos”. Critica também o papel e os interesses que circundam as pesquisas científicas. Para ele, “a pesquisa científica se encontra entre a sociedade política e o mercado”, por isso há o risco do uso indiscriminado de métodos que ignoram os direitos humanos.
A obrigatoriedade do ensino do criacionismo nas escolas também foi bastante questionada durante o debate por Chrysóstomo e é tida por este como uma interferência negativa das religiões na educação das crianças. Afirma que “a extensão do criacionismo para as salas de aula é quase a mesma coisa que a ciência questionar a virgindade de Maria” e defende a desvinculação da Igreja em relação ao conteúdo disciplinar destinado às crianças.
Durante o debate, tanto Marcus Vinícius Chrysóstomo quanto o frei Oswaldo Rezende defenderam que os pontos de intersecção entre as religiões e a ciência existem e não devem ser minimizados diante de suas distinções. Chrysóstomo acredita que “não devemos colocar a religião e a ciência como coisas antagônicas, pois elas possuem características comuns”. Para ele, ambas buscam o bem estar do ser humano e defendem a saúde sentimental – no caso das religiões - e a física – no caso da ciência. Enfatiza ainda que a ética – talvez o principal fator de similaridade entre elas - independe da religião e da ciência e deve ser uma das bases mais importantes de qualquer atividade humana.