São Paulo (AUN - USP) - O Brasil é sexta economia mundial, é líder em 400 segmentos da economia, é referência internacional em áreas como petroquímica e agricultura, possui uma base científica ao nível dos países desenvolvidos e tem produção científica elevada. Todos esses fatores dão ao Brasil otimismo para o futuro. Contudo, se encontra numa situação intermediária, pressionado por baixo por quem produz mais barato e por cima por quem produz com mais competência. É para criar um crescimento econômico sustentável e sair da situação média e aumentar sua participação no mercado global que uma política de inovação, em conjunto com uma estratégia de desenvolvimento industrial, deve ser definida e implementada no país com eficácia.
Foi a essa conclusão que chegaram os palestrantes de “O Desafio da Inovação no Brasil e as Estratégias de 7 Países”, palestra realizada recentemente no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e que contou com Evando Mirra de Paulo e Silva, diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e Glauco Arbix, professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e coordenador geral do Observatório da Inovação e Competitividade. O evento teve por objetivo apresentar os resultados gerais da pesquisa “Mobilização Brasileira para a Inovação” (Mobit) e discutir a necessidade de políticas de inovação e desenvolvimento industrial bem definidas e articuladas entre si.
Para os palestrantes, o Brasil, caso queira entrar numa fase de crescimento econômico sustentável e aumentar sua participação no mercado global, para que não se fique somente no famoso “vôo de galinha” (pequenos surtos de crescimento econômico intercalados com longos períodos de letargia), precisa articular medidas de inovação industrial com eficiência. Algumas medidas foram tomadas nos últimos anos, como a Lei de Inovação, regulamentada em 2005, e os recentes esforços da Política Tecnológica de Comércio Exterior (PTCE) e da ABDI para dialogar com diferentes setores da economia. Por outro lado, apenas 25% do PIB industrial são investidos em inovação, enquanto em países desenvolvidos esse número chega a 50%. Além disso, o Brasil deve procurar formas próprias de inovar.
Foi essa a intenção da pesquisa Mobit, encomendada pela ABDI ao Observatório e realizada pelo Centro de Análise e Planejamento (Cebrap), que fez um estudo comparativo de políticas industriais de base tecnológica em sete países, de perfis diversos: França, Irlanda, Reino Unido, Finlândia, EUA, Canadá e Japão. Partindo do pressuposto de que a inovação é uma alavanca para o crescimento e entrada ativa do país no cenário econômico internacional, a pesquisa não comparou simplesmente as políticas dos países para no Brasil implementá-las, mas captou tendências internacionais e, numa espécie de transposição, testou hipóteses para o caso brasileiro.
Em todas as políticas observadas, os programas mais importantes focam a empresa, vista como lugar de excelência no surgimento da inovação, apesar de ocorrer também em ONGs e universidades. Também se percebeu uma preocupação geral com o que está ocorrendo de melhor no mundo como forma de focar as metas de desenvolvimento. Além disso, os países em questão transitaram para um novo paradigma, passaram a perseguir novos objetivos, que há poucos anos não existia. Ou seja, foi preciso que os países reconhecessem que suas metas eram insuficientes para iniciarem um programa de inovação industrial.
Cabe ao Brasil se dar conta da importância das políticas de inovação. Segundo Arbix, falta maturidade na política brasileira, pois sempre há uma ruptura quando há transição de governo. Estes devem articular políticas de longo prazo para que possam passar pelo crivo do tempo e apresentar resultados. Ele também disse que um programa de estímulos às pequenas empresas é medida-chave para dinamizar a economia.
Arbix ainda defendeu quatro medidas para que a inovação seja uma realidade no País: aprofundar fóruns de diálogos sobre o assunto junto com o setor privado, que não pode ser isolado da discussão; criar uma malha mundial de pesquisadores brasileiros (a criação da plataforma de currículos Lattes já é um avanço) e mantê-los em contato com o País para que suas pesquisas sejam conhecidas e dêem retorno; criar um fundo nacional de inovação (existem alguns fundos apenas regionais) para que as políticas sejam uniformes; e articulação de pólos de competitividades focados.
Segundo Mirra, o Brasil possui problemas como corrupção e problemas jurídico-burocráticos, mas mesmo assim ele é uma boa aposta. Ele acaba de atingir o “grau de investimento” (nota BBB- de acordo com padrões internacionais, o que o torna confiável para investimentos e pagamentos de dívidas), e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é reconhecido como o 3º melhor do ramo no mundo, articula um plano para criar uma superfarmacêutica que seria capaz de investir fortemente em inovação para criação de novos medicamentos.
Além disso, a inflação está baixa e controlada, o mercado de crédito está em expansão e há mais recursos para investimentos. Esse quadro favorável faz do Brasil uma promessa para o futuro. Para Mirra, “somos no grande quadro da inovação, seres improváveis. Mais que figurantes e menos que personagens”. Essa promessa só se tornará realidade se a inovação, como mote do desenvolvimento industrial, for vista com prioridade pelo governo.