São Paulo (AUN - USP) - A Matemática ensinada hoje nas escolas não faz com que o aluno pense. Ruy César Pietropaolo, professor da PUC e pesquisador na área de Educação da Matemática, afirmou em palestra sobre a Educação Básica, no Instituto de Matemática e Estatística da USP, que atualmente ensinam-se apenas procedimentos matemáticos, o "como fazer", e é deixado de lado o incentivo às atitudes do conhecimento, como o questionamento e a capacidade de relacionar conteúdos. Ele defende a inclusão das demonstrações e provas no currículo matemático, pois elas desenvolveriam a cognição dos alunos e evitariam o método das fórmulas decoradas, possibilitando o real domínio da matéria.
Segundo ele, a Matemática deve ser uma ferramenta que ajude o aluno a pensar e a compreender a realidade, trazendo para a sala de aula situações do dia-a-dia. No entanto, é preciso encontrar um equilíbrio entre a abstração matemática e a conexão constante com o cotidiano; pois, se antigamente as aulas eram inacessíveis e os alunos não tinham idéia da utilidade do que aprendiam; hoje, os professores acabam se preocupando demais em inserir o cotidiano do aluno nas explicações, e aquilo sem aplicação imediata é deixado de lado, afastando a cultura matemática das salas de aula. "As explicações matemáticas não dizem respeito somente ao cotidiano, mas a muitas áreas de conhecimento, isso não pode ser esquecido", alerta o professor, que é formado em Matemática e em Pedagogia.
Esse poder explicativo é um dos princípios de Alan Bishop, professor da Universidade de Monash, na Austrália, que orientam a concepção de currículo defendida por Pietropaolo, os outros são: a representatividade (inserir o aluno na cultura matemática, o "saber como funciona"), o formalismo (trabalhar a linguagem matemática), a acessibilidade (levar em conta a capacidade do aluno evitando divagações desnecessárias) e a concepção ampla e elementar (encontrar um equilíbrio entre a profundidade e a quantidade de temas abordados).
O professor admite que seguir esses princípios não é das tarefas mais fáceis, principalmente quando se fala na questão do conteúdo. "Cada um tem uma idéia sobre o que é ou não importante. Não há consenso entre os professores sobre o mínimo de conhecimento a ser passado". Ele diz que, às vezes, as propostas são até interessantes e bem elaboradas, mas o problema é que não há tempo hábil para os professores. Os assuntos não contemplados não são retomados na série seguinte, até porque muitas vezes o professor já mudou.
O Brasil não possui um currículo escolar obrigatório e unificado. Isso dificulta o trabalho nas escolas públicas, por exemplo. Nas escolas particulares, quando um professor é contratado, ele recebe a orientação sobre o programa a ser cumprido. Na pública, isso não existe: os professores desenvolvem assuntos diferentes, até mesmo para alunos das mesmas séries. Além de agravar as disparidades regionais na educação do país, isso dificulta qualquer processo de avaliação nacional, já que os níveis entre as instituições de ensino são muito diferentes. Por outro lado, a autonomia das escolas, que supostamente conhecem melhor as demandas de seus alunos, seria colocada em xeque com a unificação dos currículos escolares. Pietropaolo considera que o melhor modelo de currículo seria aquele que indicasse um programa mínimo e também deixasse espaço para os professores decidirem o que é mais adequado para seus alunos.