São Paulo (AUN - USP) - Caso um computador quântico com grande capacidade de processamento seja efetivamente ligado, ele quebrará todo o RSA, sistema de criptografia mais utilizado atualmente para garantir a segurança de Internet, de sistemas de crédito e em transmissões de informações confidenciais de estado. Belita Koiller, doutora em Física e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que o sistema RSA se baseia na dificuldade de fatorar números grandes, mas a computação quântica não apenas possibilita essa fatoração como a faz de forma muito eficiente. Segundo ela, em poucos anos será preciso desenvolver um sistema novo de segurança que substitua o atual e possa ser tão amplamente utilizado.
Isso tudo se dá porque a computação quântica se baseia em princípios da mecânica quântica, que tem leis totalmente diferentes das que regem a física clássica. "Na verdade", diz ela, "os computadores quânticos teriam vantagem em relação à computação clássica em um número muito pequeno de problemas, mas seriam essenciais e revolucionariam a área não apenas em relação à segurança, mas em muitos outros sentidos”.
Um dos princípios utilizados responsável por esse potencial da computação quântica é o de que uma partícula subatômica pode estar em diferentes posições ao mesmo tempo – ou em diferentes tempos (passado e futuro). A computação clássica se baseia no sistema binário, em que um bit (unidade que representa um dado) pode assumir o valor de zero ou um; já um computador quântico utiliza o quebit, que pode ter os dois valores simultaneamente. "São conceitos difíceis de entender pois não possuem análogo no mundo clássico", afirma a professora Koiller.
Na prática um computador quântico trabalharia com um enorme volume de dados e variáveis complexas com os quais um computador clássico não é capaz de lidar. O exemplo típico que se usa é aquele em que se tem o número de telefone da pessoa e quer-se descobrir o nome. É preciso olhar os nomes da lista telefônica um a um, pois as listas não estão ordenadas por número e sim por nomes; o que demoraria muito tempo. Já na computação quântica, é possível testar as diferentes possibilidades ao mesmo tempo. A idéia é que se pegariam todos os números da lista e os colocariam no estado de superposição, ou seja, se processaria o nome associado ao telefone em todos os números ao mesmo tempo. É o chamado paralelismo quântico. É claro que no caso da lista dá para simplesmente ordenar os números, mas há outros problemas que não podem ser ordenados porque não têm estrutura nenhuma. Em alguns casos, eles são tão complexos que para tentar resolvê-los com computadores normais seria preciso muitos processadores e muito tempo - centenas e centenas de anos.
Esses computadores não podem ser utilizados para uso pessoal, como os PC’s ou os Macs, mas em pesquisas científicas e em vários ramos da indústria tecnológica que lidam com problemas altamente complexos e que poderiam se beneficiar dessa otimização e desse ganho de velocidade. Sua fabricação comercial ainda está em desenvolvimento mas progride cada vez mais rápido com as pesquisas acadêmicas; já existem diversos protótipos bem avançados nos poucos lugares do mundo que dominam essa tecnologia - países como EUA e Japão. No Brasil, apesar de existirem apenas alguns pequenos protótipos e a maior parte das pesquisas serem feitas em cooperação com grandes grupos internacionais, os grupos de pesquisa têm tido bastante importância na construção desses hardwares e alcançado reconhecimento.