São Paulo (AUN - USP) - Portadores de problemas renais congênitos encontram em um transplante renal (TR), provavelmente, sua única chance de sobrevivência. A terapia imunossupressora (TI) decorrente do transplante é importante para garantir a efetividade do tratamento, mas pode trazer consigo efeitos adversos, entre outros, na mucosa oral e dentes. Roberto Brasil Lima, mestrando em Ciências de Saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, realizou um estudo com o objetivo de avaliar as principais manifestações orais em pacientes submetidos a um TR no Serviço de Nefrologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo.
O transplante renal é o principal tratamento para indivíduos que apresentam falência dos rins. O processo degenerativo renal é desencadeado por vários fatores, como por exemplo, má formação genética, hipertensão arterial ou diabetes. Para reduzir a possibilidade de ocorrer rejeição do enxerto, o paciente é submetido a uma terapia com imunossupressores, aos quais podem ser associadas várias outras medicações, como bloqueadores dos canais de cálcio. Esta terapia pode causar uma série de efeitos colaterais, como nefro, hepato, neuro e cardiotoxicidade. Pelo estado de imunossupressão, muitas manifestações orais oportunistas ou não podem ocorrer.
Neste levantamento foram avaliados 58 pacientes adultos, submetidos ao trans-plante de rins e terapia imunossupressora para avaliação das principais ocorrências na cavidade oral. Os resultados obtidos demonstram a ocorrência de linfonodos palpáveis em 15,51% das vezes, gengivite em 48,27%, periodontite em 32,75%, cáries em 37,93% e outros como raiz residual, candidíase e problemas na língua e no esmalte do dente. Diante dos resultados obtidos, conclui-se que a avaliação bucal de pacientes pediátricos submetidos a TR tem importante relevância na prevenção de doenças bucais e de suas possíveis repercussões sistêmicas.
Segundo Roberto Matuck Auad, da Faculdade de Odontologia da Universidade Vale do Rio Verde, é importante ressaltar também o crescimento gengival como efeito colateral de certos medicamentos. Entre eles, a Ciclosporina, uma substância imu-nossupressora usada para prevenir a rejeição dos transplantes de rim, coração e fígado. Apesar de ser uma droga de primeira escolha, na linha terapêutica, vários efeitos colaterais têm sido atribuídos ao seu uso.
Roberto afirma que “O crescimento gengival não pode ser classificado como uma hiperplasia gengival, aumento do número de células, contudo, parece que o volume maior da gengiva é devido a uma associação fibroblástica e a um aumento da matriz celular. A Ciclosporina possui funções imunológicas apresentando efeitos esti-mulatórios ou inibitórios, dependendo da subpopulação de fibroblastos sobre a qual estiver atuando. Foi encontrada uma correlação entre o grau de severidade do crescimento gengival, a prevenção e a manutenção da higiene bucal do pacien-te”.
A Ciclosporina revolucionou o sistema de transplante de órgãos na última década, salvando muitas vidas. Sendo usada em transplantes renais, minimiza o maior pro-blema destes pacientes, a rejeição do órgão transplantado.Assim, devido aos seus efeitos específicos no sistema imunológico, é rotineiramente prescrita apenas para prevenir rejeição de transplantes, mas para uma variedade de distúrbios imunológi-cos. “Infelizmente está associada a efeitos colaterais indesejáveis, incluindo a ne-frotoxidade, linfoma e crescimento gengival”, diz Roberto.
“Uma correlação positiva entre o grau da hiperplasia gengival com a placa bacteriana e gengivite foi encontrada por vários pesquisadores. Correlação positiva também foi encontrada entre os níveis de Ciclosporina da saliva, os índices de placa bacteriana e hiperplasia gengival, mas o papel preciso da placa bacteriana, na indução da hiperplasia gengival pelo medicamento permanece incerta, porém, significante. Embora seja possível que um volumoso tecido gengival possa impedir o processo de higiene dental e somente secundariamente provocar um acúmulo da placa, a sua ação seria um fator irritante local e agiria como coadjuvante na hiperplasia gengival. É lógico que somente a melhoria da higiene bucal como recomendação dada ao paci-ente não é suficiente para erradicar a hiperplasia”, ao afirmar isso, Roberto ressalta ainda a importância de visitar periódicas e de acompanhamento odontológico especial para pacientes renais transplantados.
Mais informações:
Palestra sobre “Pacientes transplantados renais pediátricos”
Data: 12/06 – 18 horas
Local: Mini auditório da Biblioteca da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
Ministrador: Erika Martins Pereira
Dúvidas: Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (CAPE)
Avenida Prof. Lineu Prestes, 2227 Cidade Universitária CEP 05508-900
Prédio da FOUSP- Térreo
Telefones: 3091- 7859/ 3091-7838