São Paulo (AUN - USP) - O irradiador multipropósito do elemento químico cobalto-60, que está no Centro de Tecnologia das Radiações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) da USP, foi construído para dar suporte à comunidade científica que trabalha com pesquisas. Atendendo a uma nova modalidade, o de tipo compacto, tem grande poder de processamento e ocupa menor espaço.
O irradiador levou dois anos para ficar pronto, custou cerca de 1,5 milhão de reais e funciona desde 2006, sendo o segundo do tipo no país . Foi totalmente projetado e construído com tecnologia nacional, o que chamou a atenção de fabricantes estrangeiros. Apenas as fontes de cobalto-60 é que são importadas.
A irradiação é aplicada principalmente na esterilização de materiais descartáveis de uso médico, mas também pode ajudar na preservação e desinfestação de alimentos, modificação de materiais poliméricos e tratamento de obras de arte, acabando com fungos ou outros parasitas presentes em quadros ou livros. Serve, além disso, para agregar valor a pedras semi-preciosas (ao mudar a cor das gemas, aumentando o seu preço comercial; é o que ocorre com o quartzo, que de incolor fica esverdeado, num tom parecido ao da esmeralda). Existe um convênio do Ipen com o banco de tecidos do Hospital das Clínicas para a esterilização de órgãos humanos destinados a implantes.
As fontes de cobalto-60, que fornecem energia 24 horas para o irradiador, têm como blindagem a água e as espessas paredes de concreto que o cercam. Quando não há nenhum produto sendo irradiado ou quando alguém entra na instalação, essas fontes, guardadas dentro de varetas chamadas de "lápis", ficam mergulhadas numa piscina com água de 7 metros de profundidade. Ao todo existem 13 "lápis", mas há espaço para mais. "A gente espera que ate o fim do ano coloquem mais fontes de cobalto-60", diz Yasko Kodama, tecnologista sênior do Centro de Tecnologia das Radiações do IPEN.
O sistema de transporte de produtos permite que o irradiador seja alimentado de forma contínua, por meio de uma porta giratória, sem que haja a necessidade de baixar as fontes para o fundo da piscina. Tem capacidade para 16 contêineres metálicos, totalizando 420 litros.
Há um rígido controle sobre todos os processos ocorridos ali, bem como uma vigilância estrita da segurança dos trabalhadores e do público. Quem trabalha com o irradiador tem de passar mensalmente por uma leitura dosimétrica, que irá determinar a dose de radiação de seu corpo. Essa mesma leitura é feita com todos aqueles que forem visitar as instalações. O risco é pequeno, mas parte-se do princípio de que qualquer exposição à radiação pode aumentar, mesmo que de forma insignificante, a probabilidade de se contrair câncer. A exposição prolongada e altas doses pode causar vermelhidão, semelhante a queimaduras provocadas pelo sol, bem como alterações no sistema nervoso ou sangüíneo, entre outras coisas. Mas isso depende do tempo de exposição, da dose e do tipo da radiação. Se for do tipo beta, seu poder de penetração será menor; poderão ocorrer lesões na pele ou no cristalino dos olhos. Já a do tipo gama consegue atravessar o corpo, assim como o raio X, podendo causar danos maiores ao indivíduo exposto.
Por essa razão é que, conforme Yasko, "tudo é superestimado, o cuidado é muito grande". As paredes de concreto que cercam as fontes, por exemplo, têm 1,80 metro de espessura, medida essa maior do que seria necessário.
Quanto aos materiais processados por irradiação, eles tampouco oferecem riscos a quem os utilizar. Yasko explica que a energia vinda da radiação age apenas sobre os elétrons dos átomos que constituem o material. Ali, altera ligações químicas e forma outros radicais ou íons, quebrando o DNA dos microorganismos presentes. "Como isso tudo ocorre na eletrosfera, a energia não é suficiente pra interagir com o núcleo do átomo, e só assim se formariam produtos radioativos".