São Paulo (AUN - USP) - Os sisos, ou terceiros molares, são os últimos dentes a desenvolverem-se. Eles não estão presentes em todas as pessoas, algumas vezes porque a pessoa não tem o gene deste dente e outras vezes porque ele não erupcionou por falta de espaço na arcada dental ou por estar na posição errada dentro do osso. Quando o siso não tem espaço para nascer ele cria uma espécie de bolsa com resíduos alimentares em decomposição que vai se acumulando. Por estar em um local de difícil escovação, essa bolsa pode infeccionar e formar uma colônia de bactérias que podem cair na corrente sanguínea e migrar para o coração provocando endocardite, que é a inflamação da membrana que forra interiormente o coração.
Esse é apenas um tipo de complicação possível, ainda podem ocorres dores na face e de cabeça, inflamação da gengiva e nas vias aéreas (sinusite), além de infecções e cáries, pois a higienização é dificultada em decorrência do aumento da gengiva, que encobre o dente. Segundo Ronaldo Rettore, autor do livro “Emergências Odontológicas”, os maiores riscos de complicações para a saúde acontecem nos casos em que o dente siso fica incluso (fica preso na gengiva) ou quando nasce prejudicando toda a arcada dentária levando o indivíduo a ter que retirá-lo e a usar aparelho ortodôntico.
Ronaldo afirma que “Um dos problemas mais sérios apontados é a reabsorção do dente vizinho ao siso, ou seja, a destruição gerada por seu processo de nascimento. O dente exerce uma pressão no osso e nas estruturas vizinhas (gengiva e raiz), podendo provocar sua destruição, que é irreversível, mas isso não ocorre em uma fase inicial, na maioria das vezes, depois dos 30 anos. É um processo lento e progressivo, geralmente decorrente de pessoas que não procuraram ajuda profissional”.
De acordo com o especialista, sisos inclusos, além de produzir placas bacterianas podem provocar queda de cabelo e até mesmo tumores ósseos. "Em 6% a 10% dos casos, são tumores benignos e 0,1%, malignos", disse. Em 95% dos casos a cirurgia é necessária para retirar o dente do siso e, em quase que na totalidade dos casos, o dente do siso incluso não nasce por falta de espaço na arcada dentária.
Segundo Rettore, por não ser visível na boca, a maioria das pessoas desconhece ou ignora a existência do dente siso incluso, o que faz aumentar, a cada ano, os riscos de complicações na saúde em decorrência do siso. Ainda ressalta que "Por termos hoje uma alimentação mais pastosa, o homem possui uma arcada dentária menor ao contrário de seus ancestrais, que tinham todos os dentes sisos e uma dieta mais sólida que os obrigava a exercitarem mais a musculatura da mastigação".
A extração do siso é um procedimento que se tornou comum, o dentista pode recomendar anestesia geral ou local para realizar a cirurgia. Visando diminuir o desconforto e a dor dos pacientes durante a retirada do dente, Maria Aparecida Borsatti, professora da Clínica Integrada da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), desenvolveu um anestésico que tem como matéria prima a bupivacaína.
Para ser utilizada, especificamente, na área bucal, a bupivacaína passou por ajustes. Ela é mais vantajosa por ser mais duradoura que outros anestésicos odontológicos existentes no mercado, não havendo a necessidade de novas injeções, por ser menos tóxica para o coração - caso haja erro na aplicação, um anestésico pode até provocar arritmia cardíaca – e por possuir efeito analgésico, evitando a dor após a cirurgia.
Ainda voltada à preocupação com o conforto do paciente durante a cirurgia, o Laboratório de Informática Dedicado à Odontologia (LIDO), da FOUSP, testou um novo mecanismo de remoção do dente. A técnica utilizada não se assemelha em nada às extrações tradicionais do dente, através da tecnologia a laser há uma ablação do dente, este passa diretamente do estado sólido para o estado gasoso. O dente “some” sendo removido pelo sugador. O procedimento é realizado através de três microfuros, com diâmetro entre um e dois milímetros, por onde penetram um sugador, o laser e uma microcâmera com o diâmetro de, aproximadamente, sete milímetros.
Trata-se de um projeto-piloto que ainda está sendo testado em animais, mas que pode facilitar a cirurgia, diminuir a dor do paciente durante e após a extração do dente e que está sendo estudado para técnicas de retirada de raízes e tecidos com alterações patológicas. “A idéia abre, sem dúvida, uma nova linha de pesquisa, que com certeza trará novos conhecimentos específicos para essa área, ou mesmo conhecimentos com aplicação a outros segmentos da odontologia”, declara Moacyr Domingos Novelli, mestre e doutor em Diagnóstico Bucal pela FOUSP e patologista responsável pelo experimento.