ISSN 2359-5191

05/06/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 48 - Meio Ambiente - Escola Politécnica
Produção de misturas asfálticas a baixas temperaturas reduz emissões de CO2

São Paulo (AUN - USP) - O Laboratório de Tecnologia de Pavimentação da Escola Politécnica da USP está desenvolvendo uma pesquisa que busca a diminuição das temperaturas de usinagem do asfalto. O sucesso desse projeto representaria não apenas um ganho econômico e energético, mas, sobretudo, uma vantagem ambiental.

Para a produção das misturas asfálticas a quente, em usinas, gasta-se muito combustível e, por isso, o consumo energético e as emissões de CO2 são expressivos. Aquecem-se os agregados para retirada da água e, em seguida, introduz-se no processo o asfalto a altas temperaturas para que, com sua consistência reduzida (o asfalto torna-se líquido), ele possa cobrir os agregados que compõem a mistura asfáltica.

A temperatura de usinagem pode variar de 150 a 180ºC. A pesquisa, além de buscar uma redução de 20 a 30ºC na produção da mistura asfáltica, também visa à diminuição da temperatura necessária para aplicação do produto. Dessa forma, não só os gastos com combustíveis e a poluição atmosférica serão reduzidos, mas também, a inalação de emissões decorrentes da aplicação.

A pesquisa está na fase laboratorial, ou seja, verificam-se as dificuldades de implementação para que o projeto possa ser levado para usina e, daí, para o campo. “Queremos chegar até o trecho experimental”, afirmou Liedi Bernucci, coordenadora da pesquisa. Para que isso seja possível serão necessárias novas parcerias. Por enquanto, o projeto conta com o financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

As parcerias poderão variar desde órgãos públicos até empresas privadas. A Petrobras detém as nove refinarias que produzem asfalto no Brasil, mas a venda do produto para o consumidor ou para os empreiteiros pode ser realizada por empresas privadas e públicas. Além disso, muitas rodovias, que poderiam ser utilizadas na fase experimental da pesquisa, estão sob concessões de organizações privadas. Os acordos dependerão da adequação da pesquisa aos planos das empresas.

Segundo Liedi, o Laboratório de Tecnologia da Pavimentação não tem encontrado grandes dificuldades para conseguir financiamentos e recursos, graças à qualidade do trabalho que desenvolve e sua relação com a prática e as necessidades da engenharia de pavimentação do país. Porém, de uma maneira geral, o investimento nas vias do Brasil é muito baixo. O que se observa é que o número de automóveis cresce, os gastos com combustíveis aumentam, mas o consumo de asfalto não se altera.

Hoje, o país consome aproximadamente 1 milhão e 800 mil toneladas de asfalto por ano. A Espanha gasta uma vez e meia esse valor e ainda é superada pela França e Alemanha, na Europa. “Eles fazem muito mais estradas e manutenções em países de proporções bem menores que o nosso”, constatou Liedi. A França, por exemplo, conta, atualmente, com malha rodoviária pavimentada cerca de quatro vezes maior que a brasileira.

A grande diferença entre o Brasil e essas nações européias, na área de pavimentação, não é propriamente tecnológica, ou seja, elas não possuem equipamentos muito mais avançados e eficientes que os brasileiros. Segundo Liedi, o que falta ao Brasil é um plano de desenvolvimento para médio e longo prazo, pois o país não sabe nem como terminará 2008, quanto mais o que ocorrerá nos próximos cinco, dez anos. “O que acontece é que eles [Espanha, França e Alemanha] investem em infra-estrutura e nós, não. O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] é o primeiro projeto, nos últimos anos, que definiu algumas linhas prioritárias, mas eu o considero muito tímido frente ao que o país precisa”, afirmou Liedi.

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