ISSN 2359-5191

10/06/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 50 - Meio Ambiente - Escola Politécnica
Entulho vira matéria-prima para pavimento ecológico

São Paulo (AUN - USP) - Apenas em São Paulo, descarta-se cerca de 16 mil toneladas de entulho de construção civil por dia, o que representa de 30 a 60% do lixo sólido produzido na cidade. Além disso, quando a deposição do entulho não é feita de maneira adequada, surgem graves problemas para a população, como a proliferação de roedores e animais peçonhentos nos depósitos a céu aberto, e as enchentes, causadas pela presença desse lixo nos córregos e rios. Diante desse quadro de desperdício, a professora Liedi Bernucci, do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica – Poli (USP), iniciou um projeto que buscava reutilizar os resíduos sólidos da construção civil para pavimentação.

A equipe, que era integrada por alunos de Mestrado e de iniciação científica e coordenada por Liedi, realizou, primeiramente, testes laboratoriais para conhecer o material. Os resíduos da construção civil são tratados, inicialmente, em uma usina recicladora que retira madeira, aço, gesso e outros materiais deletérios, e realiza a britagem do entulho. Uma vez triturados, os resíduos são selecionados de acordo com o tamanho para, então, comporem as camadas do pavimento. Este fica com o aspecto similar aos materiais granulares britados, convencionalmente usados para construção de pavimentos. O processo de aplicação nas obras é igual, pois se utilizam os mesmos equipamentos.

Na época em que essa pesquisa foi realizada, o campus da USP Leste estava sendo construído. Então, o grupo responsável pelo estudo decidiu elaborar um projeto e apresentá-lo ao órgão da Reitoria responsável pelas obras no campus, a COESF (Coordenadoria do Espaço Físico). O pavimento ecológico foi implementado como uma iniciativa inovadora. Além da utilização de agregado reciclado de resíduos sólidos da construção nas camadas de base e sub-base, aplicou-se também asfalto-borracha no revestimento asfáltico. A iniciativa foi vantajosa tanto no aspecto ambiental, quanto na questão econômica, pois o agregado reciclado de “entulho” é cerca de 30% mais barato que o material convencional.

A avaliação do projeto implementado foi feita através da comparação entre os primeiros 150 metros do sistema viário da USP Leste, que foram feitos com o agregado convencional (brita graduada), e o restante, onde se utilizou produto alternativo. Os resultados da avaliação foram os mais satisfatórios. “Conseguimos alcançar, com o material reciclado, exatamente o que alcançamos com material convencional”, afirmou Liedi.

O pavimento ecológico não pode ser aplicado em vias urbanas de tráfego muito pesado, pois estas requerem um material ainda mais resistente. No entanto, Liedi afirma que, se forem levados em consideração os três mil quilômetros de ruas sem pavimentação da cidade de São Paulo, a possibilidade de utilização desse material alternativo apenas em vias de baixo e médio volume já representa um grande avanço. “Vivemos em bolsões de riqueza e não percebemos a grande quantidade de bairros carentes com ruas ainda em terra”, constatou Liedi. A prefeitura do município de São Paulo implementou, em 2007, um novo decreto que inclui a obrigatoriedade do uso de materiais reciclados em pavimentos. Somente onde houver impossibilidade técnica ou de fornecimento, esses materiais alternativos não serão contemplados.

O projeto do pavimento ecológico já ganhou duas premiações. Uma delas foi da própria Associação dos Engenheiros Politécnicos. O aluno de iniciação científica, que representava o grupo de pesquisa, e sua orientadora ganharam uma visita às instituições francesas que possuem convênios com a Poli. A outra conquista do projeto foi o Prêmio Bayer dos Jovens Embaixadores Ambientais, em 2007, que levou o aluno Moisés Abdou para a Alemanha.

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