São Paulo (AUN - USP) - A televisão realiza uma terceirização da responsabilidade, pois este veículo comunicacional assume para si os ônus dos modelos da sociedade contemporânea. Conforme disse o pesquisador Antônio Herbert Lancha Júnior na recente palestra “TV e qualidade de vida” promovida pela TV USP, a televisão não impõe protótipos à sociedade, antes esta os deseja consumir, utilizando a televisão como meio de transpor a autoria desse desejo.
Lancha Júnior, que leciona na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, local da já mencionada palestra, contraria o senso comum, revertendo a imposição de valores sociais. O fluxo dessa imposição, para o professor, corre da sociedade para a televisão.
Como exemplo mais gritante dessa inversão, Lancha Júnior cita a questão da sedentarização. Segundo o professor, não é a televisão que torna a sociedade sedentária, mas é esta que impõe essa característica aos programas televisivos. Então, como meio de terceirizar a responsabilidade pela sedentarização, a sociedade culpa a televisão por esse mal.
Essa teoria de Lancha Júnior segue a corrente filosófica que não acredita na interferência da técnica na construção de valores sociais. De acordo com as idéias do pesquisador, a técnica (no caso, a televisão) não é nada mais que um aparelho manuseado por homens, os quais observam os valores culturais contemporâneos e os transpõe à grade de programação.
Lancha Júnior ainda alia televisão com qualidade de vida, tendo em vista que, através da ação humana do comunicador, a televisão atinge particularmente a forma com que o indivíduo age no mundo. Dessa maneira, as relações entre telespectador e comunicador se tornam mais complexas, pois ao mesmo tempo que o comunicador transmite o que vê na sociedade, ele a modifica, informando quais devem ser as atitudes dos telespectadores.
Contudo, não raras vezes, a sociedade esquece o seu papel como germe dos valores apresentados pela televisão. Para ela, segundo Lancha Júnior, o que importa é ter a televisão como um recurso de desresponsabilização.