São Paulo (AUN - USP) - A recente alegação do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, de que o Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais) não deveria contabilizar a degradação progressiva na conta do desmatamento é totalmente infundada, diz o pesquisador Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP. De acordo com ele, as técnicas do Inpe para o rastreamento e medição da degradação da floresta são muito eficientes e confiáveis. “[O governador] não tem razão. Ele está agindo em função apenas de interesses particulares, que não são nem os interesses do seu estado”, diz, “mas de pessoas cujo objetivo é aumentar cada vez mais a devastação da floresta para o uso agropecuário.”
A degradação progressiva, diferente do corte raso, onde se serra ou queima toda a mata de uma região, é a retirada apenas das árvores de maior porte e valor econômico da floresta. Paulo Artaxo explica que esse tipo de depredação não pode deixar de ser considerado, pois uma vez retiradas as árvores maiores, o resto da vegetação vai morrendo paulatinamente.
O debate em torno da questão Amazônica ganhou força este ano, quando o Inpe revelou que o desmatamento, que tinha caído efetivamente nos últimos três anos, saltou quase 800% entre março e abril. A dificuldade para conduzir os projetos ambientais que visavam, entre outras coisas, o controle da depredação da floresta levou à renúncia da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em maio.
A contestação dos dados do Inpe por Blairo Maggi gerou também uma discussão com o novo ministro do meio ambiente, Carlos Minc, que tenta cumprir a difícil tarefa de substituir a ex-ministra reconhecida internacionalmente. Mas além de gerar atritos políticos que desgastam a imagem do Brasil no exterior, o desmatamento é o maior responsável pela produção brasileira de gases do efeito estufa. Sua contribuição é de 70% a 80% das emissões, diz Paulo Artaxo. Segundo ele, o Brasil tem todas as ferramentas para reduzir significativamente esse problema – incluindo a legislação e o sistema de monitoramento do Inpe.
Quanto ao uso do Exército nesse combate, proposto por Minc, o pesquisador afirma que não é um recurso necessário, pois existem ferramentas econômicas e estratégicas muito mais eficientes. “O principal problema da Amazônia é a falta de um processo de ocupação racional que seja biologicamente sustentável”, conclui.
Recentemente, de acordo com a Folha de S. Paulo, o governador Blairo Maggi disse ainda que o corte de crédito governamental para produtores que não comprovarem regulamentação ambiental afetará a produção e aumentará ainda mais a crise do preço dos alimentos. Paulo Artaxo, entretanto, afirma que isso é um blefe e acrescenta: “em primeiro lugar, o governo não deveria nem ter começado a financiar empreendimentos que desobedecem à legislação”.