São Paulo (AUN - USP) - O superacelerador de partículas LHC, construído próximo a Genebra, na Suíça, com um perímetro de 27 km, iniciará suas atividades nas próximas semanas, possibilitando uma nova geração de experiências com colisões de partículas a altíssimas energias nunca antes produzidas em laboratório. O LHC terá condição de reproduzir situações que existiam no início do universo, micro-segundos após a grande explosão que deu origem a tudo (o Big Bang), segundo a professora Frederique Grassi do Instituto de Física da USP.
Essas experiências – que para um leigo podem parecer assustadoras – possibilitarão um estudo em maior profundidade dos constituintes elementares da matéria, ou seja, as menores partículas conhecidas que constituem toda a matéria que existe no Universo. A desconfiança de que os experimentos com tanta energia levem a uma catástrofe chegou a fazer com que dois havaianos entrassem com um processo contra o funcionamento do superacelerador. Entretanto, cientistas do mundo todo têm estudado o projeto e garantem que ele é totalmente seguro.
Eles pretendem trabalhar com escalas de tamanho quase inimagináveis – as partículas que serão estudadas são constituintes dos prótons e nêutrons que, por sua vez, formam o núcleo dos átomos. Essas partículas, chamadas de Quarks, ficam “presas” nos prótons e nêutrons, mas a altas temperaturas e pressões, como as que existiam micro-segundos após o Big Bang, elas ficam livres e é possível estudá-las mais detalhadamente, explica Frederique Grassi. Cada escala de tamanho que se consegue estudar representa um salto de maior importância no desenvolvimento da ciência, e diversas vezes nos conduziu a descobertas históricas, de acordo com o pesquisador Arthur Maciel, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Para ele, estamos no limiar de uma nova era do conhecimento, prestes a entrarmos em um novo horizonte científico.
Para entender essa afirmação, é preciso conhecer o que os cientistas chamam de Modelo Padrão - um complexo de equações matemáticas que descreve como as partículas elementares interagem. É um guia na busca de uma única teoria que explique as leis de funcionamento do Universo. Esse modelo, apesar de explicar muito bem certos fenômenos, ainda é uma teoria incompleta. Um dos objetivos do LHC é encontrar uma partícula fundamental exigida pelo modelo, mas que nunca foi comprovada: o Bóson de Higgs, que permite explicar como outras partículas adquirem massa. Se ele não for encontrado, o Modelo Padrão deverá sofrer profundas revisões ou mesmo ser descartado. Entretanto, quer ele seja confirmado ou rechaçado, é evidente que à frente nos depararemos com grandes descobertas e inovações.