São Paulo (AUN - USP) - Com sobrecarga de trabalho e rodeados por um excesso de variedade de produtos, grande parte dos médicos baseia-se apenas em anúncios publicitários e escolhe medicamentos imprecisos para indicar a seus pacientes. São as conclusões do estudo apresentado por Mônica Bruno como dissertação de Mestrado à Faculdade de Saúde Pública da USP, que se centrou nos medicamentos cardiovasculares, entre os mais usados no Brasil atualmente, para verificar a influência dessas propagandas sobre o uso irracional de remédios.
Como apenas uma pequena parte dos medicamentos disponíveis do mercado é considerada essencial segundo os padrões do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, as indústrias tendem a investir em propagandas atraentes, deixando em segundo plano a precisão dos dados. Frases subjetivas como "Seu paciente com mais vida" e "É assim que se prescreve" são usadas para atrair os médicos. Hospitais e consultórios particulares são o alvo principal desses anúncios, uma vez que os cardiovasculares são vendidos apenas com prescrição médica, sendo vedada a propaganda direta aos consumidores.
Além da falta de clareza nos enunciados, há omissão quanto às precauções necessárias ao uso de cada medicamento. As informações mais ausentes entre os anúncios estudados foram "cuidados e advertências" e "interações medicamentosas", consideradas imprescindíveis segundo a resolução vigente. "O uso freqüente dos termos 'etc.' e 'vide bula' indica o descaso na transmissão das informações científicas", aponta a pesquisa. Nos casos mais graves, além da falta de dados, foram detectados argumentos falsos.
As conseqüências de uma indicação inadequada podem se alastrar de maneira perigosa, recorda o estudo, uma vez que a tendência dos pacientes é ver o produto apresentado pelo médico como a grande solução para seus problemas, sendo comuns os casos subseqüentes de auto-medicação e "prescrição" para amigos. No Brasil, os medicamentos ocupam a primeira posição no quadro de agentes que mais causam intoxicação em humanos – 28% dos casos em 2005, de acordo com o Sinitox.