São Paulo (AUN - USP) - A comemoração do centenário da imigração japonesa, que acontece durante todo este ano, atingiu também a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A Associação dos Professores Eméritos, a direção da instituição, a Associação dos Antigos Alunos e a Comissão de Extensão e cultura da faculdade, escreveram, em conjunto, um livro sobre a história dos japoneses dentro da FMUSP.
“Médicos descendentes de japoneses e sua passagem pela Casa de Arnaldo”é o nome da publicação. Os escritos foram coordenados por Henrique Walter Pinotti, presidente da Associação de Professores Eméritos da Faculdade de Medicina.
Além da passagem dos japoneses pela faculdade, o livro conta também sobre como se deu a transição de nacionalidade dos nikkeis. Segundo Pinotti, a colônia japonesa foi a única a ter um manual de orientação de comportamento. Essa diferença fez com que a adaptação fosse mais rápida, apesar das grandes diferenças culturais entre os dois povos.
Pinotti ainda apontou a diferença entre estes imigrantes e os italianos, sobre quem também já escreveu um livro. A situação no final do século XIX , para os italianos, era insustentável: fome, desemprego e desastres naturais assolavam as cidades do sul da Itália, principalmente. A única saída para eles era sair do país, e o Brasil surgiu como um “porto seguro” para tais pessoas.
Já os japoneses vieram para cá por causa de um acordo entre os governos. No começo do século XX, havia um excesso de mão-de-obra agrícola no Japão, e uma falta dela no Brasil. Então, os japoneses que chegaram aqui, através do Kasato Maru em 1908, vieram por livre e espontânea vontade.Foi algo completamente natural para eles.
O professor ainda mostrou que o contraste entre ambos, italianos e japoneses, pode ser visto em fotos da época. Enquanto os italianos tinham um aspecto cansado, com roupas sujas e rasgadas. Os japoneses se apresentavam com roupas limpas, uns até com chapéus (algo que denotava um certo grau de riqueza, na época)!
Grandes nomes nipônicos na Casa de Arnaldo
Em 1930, o primeiro descendente de japonês entrou na faculdade de Medicina. Seu nome era Massaki Udihara. Ele serviu o exército do Brasil na Segunda Guerra Mundial como expedicionário. O mais intrigante nesta história, é que ele serviu numa guerra contra o Japão, a terra de seus ancestrais.
Outros nomes importantes passaram pela FMUSP, como Sérgio Tsuzuki, ministro da Saúde durante o governo de Sarney; Yassuhiko Okay, o primeiro professor titular nikkei da FMUSP, e posterior vice-presidente da instituição.Cerca de 1280 descendentes se formaram na faculdade no período de 1939 e 2007.Destes, 40 se fixaram no corpo docente da faculdade e no Hospital das Clínicas em diferentes níveis e funções.
Esse número de formandos representa 14, 1% do total. Outra curiosidade que Pinotti citou, e que está no livro, é que cerca de 46,5% das mulheres que estudaram na FMUSP, entre 2001 e 2007, eram nikkeis.Os japoneses fizeram, mesmo, do Brasil a sua segunda casa.