ISSN 2359-5191

21/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 75 - Educação - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Governo precisa focar ações em ciência, educação e tecnologia para garantir o desenvolvimento do Brasil
Colóquio discute as políticas públicas necessárias para que a década que se aproxima seja mais promissora para o País

São Paulo (AUN - USP) - “Esse colóquio está voltado para o futuro do Brasil”. Foi com essa frase que Celso Lafer, diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), traduziu o espírito do debate, “Quais as iniciativas e políticas públicas a serem implantadas em 2008 e 2009 para que o período 2010-2020 seja mais promissor para o Brasil?”.

Lafer e outros intelectuais de diversas áreas concordaram em um ponto: mudança social é dever do governo. A universidade deve promover o pensar, a reflexão e devolver isso para a sociedade. Portanto, investimento em educação, ciência e tecnologia são básicos para que a década que se aproxima seja mais promissora para o Brasil.

A palestra encerrou o colóquio “2010-2020: um período promissor para o Brasil?”, ocorrido recentemente na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). O evento foi organizado pela Escola Politécnica, o Instituto de Estudos Avançados (IEA), a FEA, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), o Instituo de Física (IF) e o Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE), conjuntamente com Fapesp a Academia Brasileira de Ciências (ABC), dentre outros.

O objetivo do colóquio foi debater as medidas a serem adotadas pelo País para que os avanços no conhecimento, na inovação tecnológica, no crescimento econômico, na distribuição de renda e na preservação do meio-ambiente sejam mantidos e que a década que se aproxima seja mais promissora para o Brasil do que está que passou, marcada por expressivos avanços em vários setores, mas que evidenciou muitos obstáculos a serem superados. O evento ainda comemorou os 60 anos de serviços prestados do físico José Goldemberg ao Brasil em diversas áreas ligadas à ciência e à tecnologia.

O quadro da ciência no País é marcado por altos e baixos. Celso Lafer evidencia que a participação do Brasil na produção científico-cultural cresceu consideravelmente nas últimas décadas, passando de 0,4% em 1980 para 1,7% em 2007. Contudo, a produção científica está altamente concentrada em São Paulo, que agrega 90% dela, embora no estado estejam apenas 30% dos cientistas. Além disso, apenas 1% do PIB brasileiro é voltado para Pesquisa&Desenvolvimento (P&D) e a porcentagem de cientistas que trabalham em empresas é muito baixa se comparada com a taxa dos países desenvolvidos.

Lafer ressalta que a meta para o País é de aumentar a taxa de investimentos em P&D para 3% até 2020. Desse modo, a relevância do País no cenário mundial aumentaria. Outra meta a ser focada é a de aumentar o número de patentes registradas, que atualmente está em descompasso com a produção acadêmica.

Para Alejandro Szanto de Toledo, diretor do IF, políticas públicas mais acessíveis e eficientes para formação de professores e pesquisadores são indispensáveis. É consensual a necessidade da incorporação da ciência e da tecnologia da agenda do estado, para que o conhecimento seja transformado em qualidade de vida, afirma Szanto de Toledo. Para ele, a universidade tem papel decisivo e estratégico no cenário atual, pois ela deve programar uma agenda pró-ativa que permita a liderança nas ciências e desenvolver a comunidade científica para renovar e criar na indústria nacional, pois estas medidas são instrumentos poderosos de desenvolvimento social.

Já Carlos Roberto Azzoni, diretor da FEA, ressalta o fato de o Brasil vivenciar um período de economia estável e em ascensão. Ele acredita que só em um período como esse é possível promover mudanças. Em uma fase de estagnação ou recessão, promover grandes mudanças sociais se torna tarefa impossível.

Para Azzoni, o crescimento nas próximas décadas continuará tímido, não passando de 5%. As desigualdades regionais e sociais permanecerão uma triste realidade, pois seria preciso crescer cerca de 10% ao ano durante meio século para mudar algo efetivo na distribuição de renda do país. Além disso, a constante dúvida se a atual prosperidade econômica do Brasil é sustentável e duradoura ou se é apenas o famoso “vôo da galinha” permanece no ar.

Ele afirmou que o futuro não virá automaticamente, portanto, o papel do Estado é básico. Melhorar mecanismos de mercado, capacitação de recursos humanos, transferência de tecnologias, tarifas coerentes na questão da energia elétrica e investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento são algumas das medidas a serem tomadas para que a economia sustente um novo patamar científico-tecnológico. Ele ainda frisou a questão do meio-ambiente: uma campanha para o uso racional de energia deve ser feita, assim como políticas mandatárias para as energias renováveis devem ser tomadas. Os custos ambientais precisam entram na conta da análise econômica atual, afirma. O meio-ambiente precisa ser levado em conta no significado de palavras como lucro, vantagem e rentabilidade.

O debate final chegou à conclusão de que a disseminação da ciência em todos os setores da sociedade é algo básico para que os problemas atuais sejam superados e o decênio 2010-2020 seja marcado pela continuidade do crescimento do País, não só no âmbito econômico, mas no social, científico, cultural, e tecnológico. A universidade, em especial a USP, tem papel de destaque nessa tarefa, mas ao Estado cabe grande parte das ações para um desenvolvimento sustentável e eqüitativo, mobilizando-se para acelerar a inovação tecnológica, superar o déficit educacional e intensificar a ciência brasileira no cenário mundial.

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