São Paulo (AUN - USP) - Até 12% das pessoas que usam fones de ouvido no trabalho sofrem de perda auditiva. No entanto, até o momento não há, no Brasil, normas para avaliar e garantir uma exposição segura ao ruído com esse tipo de acessório. “Faltam, no Brasil, procedimentos e metodologias legais para avaliar se o som emitido pelo fone de ouvido está dentro de níveis seguros”, diz o engenheiro eletricista e de segurança do trabalho Jair Felicio. Ele acaba de apresentar um estudo, na Escola Politécnica da USP, que traz contribuições importantes para solucionar esse problema. Nesse trabalho Felicio identificou quais metodologias e normas são mais adequadas para avaliar os níveis de ruído em fones de ouvido.
Sua pesquisa foi baseada em um levantamento de normas internacionais e estudos sobre medições sonoras. Nela Felicio constatou que a medição de som emitido por fone de ouvido envolve variáveis que, se não forem levadas em consideração, podem distorcer o resultado. “Além disso, a maioria dos pesquisadores não teve a preocupação em padronizar os procedimentos de avaliação e os equipamentos de medição”, afirma.
Por outro lado, as normas consideradas mais adequadas para esta finalidade, as da serie ISO11904, são de difícil aplicação prática. Ele explica que além de caras, elas exigem profissionais altamente capacitados para lidar com os equipamentos sofisticados de medição. “Por isso, sua adoção acaba sendo limitada”, completa.
Uma possível solução identificada pelo pesquisador foi uma metodologia elaborada por uma empresa sediada em Chicago, nos EUA. Segundo ele, essa é uma alternativa mais barata e simples. “No entanto, ela precisa ser melhor estudada para verificar a sua conformidade com as normas da série ISO 11904”, diz ele, que pretende continuar sua pesquisa, em nível de doutorado, nessa linha.
Segundo o professor Wilson Siguemasa Iramina, que orientou o trabalho do pesquisador, se for comprovada a eficiência desta metodologia, haverá subsídios para a elaboração de normas de higiene ocupacional, de procedimentos de medição, de metodologia e critérios de avaliação e instruções técnicas sobre o assunto. “Ela poderá até mesmo vir a ser adotada como uma norma oficial brasileira de Metodologia e Procedimento Normalizado do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO)”, diz.
Para o autor da pesquisa, quantificar adequadamente o ruído junto aos usuários de fones de ouvido é indispensável para o controle e a diminuição dos riscos de perda auditiva por exposição prolongada. “Hoje esse problema está sendo mascarado ou mesmo subnotificado com a ocultação da doença ocupacional”, afirma.
Ele lembra que a dimensão do problema é muito maior do que se imagina. Basta lembrar que, além da área de telemarketing, os serviços de telefonia também empregam milhares de pessoas no país como telefonistas, atendentes, técnicos e cabistas. Há ainda outros profissionais expostos ao risco, como pilotos de aviões, músicos e operadores de áudio e vídeo. “Isso sem falar na legião de pessoas que diariamente passam horas ouvindo música em seus tocadores digitais”, finaliza.