ISSN 2359-5191

24/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 78 - Sociedade - Faculdade de Direito
Sociólogo da USP aborda exclusão política no Brasil

São Paulo (AUN - USP) - A desigualdade social, a falta de engajamento político da população, o governo Lula, assim como algumas propostas para melhorar as desigualdades e o Direito no país foram alguns dos assuntos discutidos pelo professor e sociólogo José de Souza Martins, em entrevista concedida ao Centro Acadêmico XI de Agosto.

O professor falou o problema da exclusão política no Brasil. Apesar de ocorrer uma inclusão eleitoral no decorrer do século XX, a inclusão política não aconteceu. O eleitorado brasileiro é alienado e vota em estereótipos e não em idéias e partidos. Os partidos, por sua vez, são associações de interesses particulares que raramente propõem idéias que vislumbram o futuro do Brasil. Isso porque foi o Estado que fez nossa independência e não o povo. Assim as minorias governam as massas. O resultado dessa alienação política é uma sociedade acomodada, patrocinada pelo Estado, quando na verdade ela deveria ser ativa e administrar o Estado politicamente.

O governo e o próprio presidente Lula é um exemplo de votação alienada num estereótipo. Segundo o professor “Ele é menos líder do que se pensa e mais administrador do que se reconhece”. O carisma de Lula é, portanto, superficial, ele não é um retirante nordestino cujos valores sertanejos permanecem vivos e o aproxima do povo. Ele saiu de Pernambuco ainda criança e se criou nos subúrbios paulistanos se ressocializando na cidade grande.

O professor Martins explica que Direito e Política estão intimamente ligados. Para melhorar a política é preciso melhorar o ensino do Direito e suas leis. Porém, antes, é preciso reconhecer a existência de dois Brasis: um pobre, clandestino, comandado por bandidos; e outro rico, legalizado, do qual faz parte uma pequena elite dominante. Entre eles há um abismo que nosso ensino jurídico simplesmente ignora. “Nosso ensino jurídico é baseado no falso pressuposto de que este é um país moderno e civilizado. Não o é. Somos um país recoberto por uma frágil casca de civilização” diz Martins. Há juristas brilhantes no Brasil, mas isso pouco vale se eles não revêem as instituições, as leis e a si próprios.

José de Souza Martins é professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da FFLCH-USP, tendo lecionado na Universidade de Cambridge na Inglaterra, Universidade da Flórida nos Estados Unidos e Universidade de Lisboa em Portugal. Atuou como membro da Junta de Curadores do Fundo Voluntário das Nações Unidas contra as Formas Contemporâneas de Escravidão (Board of Trustees of UN Fund on the Contemporary Forms of Slavery) entre 1996 e 2007 e no governo de Fernando Henrique Cardoso, como assessor do presidente e na Secretaria de Direitos Humanos, onde participou da comissão interministerial que preparou o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e do Trabalho Escravo. Publicou diversos livros, dentre os quais Florestan – Sociologia e consciência social no Brasil.

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