São Paulo (AUN - USP) - O litoral paulista está em gradativo enriquecimento ecológico, principalmente pela política governamental de resgate da fauna e flora litorâneas. Pesquisas desenvolvidas com algas marinhas na região ao longo de três anos pelo doutorando Qi Yaobin, que teve como orientador o professor do Instituto de Biociências da USP (IB-USP), Eurico Cabral de Oliveira Filho, comprovaram que "a qualidade de vida, do ponto de vista ambiental, está melhorando e muito na região de Santos".
A região atraiu a atenção dos estudiosos com sua crescente industrialização. Uma das teses mais respeitadas sobre o assunto data do final da década de 50, proferida pelo professor de biologia Aylthon Joly, que estudou algas marinhas típicas da Baixada Santista e relacionou-as com a qualidade das águas oceânicas da região. O professor concluiu que tais seres vivos estavam diminuindo gradativamente no ecossistema local, por causa da poluição de rios e do mar e pela escassez de serviços de saneamento básico.
O tema interessou a vários profissionais a partir de então. Outras pesquisas foram realizadas no litoral paulista em 1970 (a principal delas defendida pelo professor Eurico) e 1980. Todas constatavam o gradual desaparecimento das algas e, conseqüentemente, de outras espécies que entrariam na cadeia alimentar, como peixes, crustáceos e animais marinhos de maior porte.
A situação ficou mais problemática com a morte de habitantes locais, denunciadas em reportagens amplamente divulgadas pela imprensa. Cubatão foi "eleita" a cidade mais poluída do Brasil, uma das mais poluídas do planeta, com péssima qualidade de vida e ecossistema em deterioração. O turismo e a pesca, alavancas da economia local, foram extremamente prejudicados. Porém, ao final da década de 80, o governo (responsável pela construção e operação de um emissário submarino), ONGs e iniciativa privada uniram-se para combater o problema. Vários setores da sociedade mobilizaram-se e promoveram campanhas para a valorização da Baixada Santista. "Os resultados desta campanha estão sendo sentidos já há algum tempo, com a volta dos turistas e o controle maior sobre a emissão de poluentes e de esgotos pelas indústrias", comenta.
O professor Eurico ressalta que, num ecossistema, geralmente é difícil sentir melhorias em curto espaço de tempo. Mas a pesquisa que desenvolveu com Qi Yaobin comprovou cientificamente a restauração ambiental do litoral santista. Além disso, há uma vantagem em se estudar algas: elas permitem apontar tendências no ambiente, pois são as chamadas "produtoras" na cadeia alimentar, o que equivale dizer que delas dependem quase todos os demais organismos, diferentemente de se estudar apenas a água do mar, cujas propriedades podem sofrer mudanças repentinas diariamente.