São Paulo (AUN - USP) - O Brasil tem apresentado um cenário econômico em que se torna possível não haver inflação: a quantidade de novas vagas de emprego tem superado o número de eliminações. "Há muita capacidade ociosa, uma enorme quantidade de gente desempregada e não é só gente de baixa qualificação. Portanto, a economia pode crescer sob este ponto de vista, sem nenhuma pressão inflacionária", disse o professor Paul Singer, em apresentação a um auditório lotado, no dia 23 de março, na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. Esta foi a primeira de um ciclo de palestras que compõem o Seminário Conjuntura Econômica, promovido pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu. Falarão também João Sayad e Mendonça de Barros.
Os números do IBGE confirmam a afirmação de Singer. Embora os dados da Pesquisa Mensal de Emprego apontem um aumento muito pequeno do número de vagas, há de se considerar que até pouco tempo estes índices diminuíam ou permaneciam estáveis. Estima-se que, de março do ano passado até fevereiro deste ano, houve um aumento de 2% do número de pessoas trabalhando. A área de construção civil - que tem a maior taxa de desemprego segundo a pesquisa - por exemplo, apresentava no começo de 99 o índice de 10,7%, sendo que, no começo de 2000, passou para 9,3%. O mesmo aconteceu com Salvador, uma das regiões de maior desemprego do país: em um ano passou de 12% para 10,6%.
Outra questão central da discussão sobre política econômica brasileira é o controle das idas e vindas de capital globalizado. "Eu não vou dizer que o Brasil não precisa de capital externo, mas precisa de muito menos do que está vindo", diz Singer. Inicialmente, foram apresentados alguns pontos sobre o panorama econômico mundial para depois tratar especificamente do caso brasileiro. O motivo para a escolha desta ordem é simples: as crises vêm de fora para dentro, daí a importância de primeiro entender a dinâmica econômica do exterior.
Há ainda o fato de que a América Latina vem e está sofrendo uma nítida recessão. No ano passado, a economia cresceu apenas 10,8%, considerando-se que, no último trimestre, houve um forte aceleramento de 3,1%. Segundo o professor, a solução para o Brasil é combinar o crescimento econômico - indispensável por motivos sociais - com uma recuperação que consistiria em uma redução do endividamento externo e público.
O ponto fraco, que o governo está tentando melhorar através de saldos fiscais primários positivos, é que a dívida pública brasileira representa algo em torno de 50% do PIB. Tudo por causa de uma desvalorização pessimamente conduzida. A longo prazo, não há possibilidade para o Brasil ter um crescimento se o país não se precaver contra a especulação financeira. Singer diz que o ideal e necessário seria combater a pobreza e desemprego, sem estar vulnerável aos humores da especulação.