São Paulo (AUN - USP) - "A interação dos trabalhos de técnicos e psicólogos é cada vez mais importante para o desenvolvimento atlético de competidores esportivos. Apesar disso, alguns treinadores ainda mantém comportamentos autoritários e onipotentes, evitando ao máximo os trabalhos em grupo e prejudicando o desempenho dos atletas". Esta foi a opinião defendida pelo psicólogo e técnico de natação William Urizzi de Lima, em palestra realizada recentemente na Escola de Educação Física e Esportes da USP. Para Urizzi, a intervenção conjunta de técnicos e psicólogos possibilita a construção de estratégias de incentivo ao atleta, que são fundamentais para seu desempenho esportivo.
Diante de uma situação competitiva, o sistema nervoso autônomo simpático de cada esportista "prepara" o seu organismo para a competição. Para Urizzi, é nessa fase preparatória que deve haver a intervenção conjunta do treinador e do psicólogo. "Eles devem perceber o que ocorre com o competidor nos dias e até nos momentos antes da competição para poderem solucionar os possíveis problemas", diz ele. Antes de começar a atuar no campo esportivo, Urizzi adverte que o psicólogo deve se interar da prática esportiva a ser estudada. "O psicólogo tem que conhecer o perfil da atividade esportiva, observar o comportamento dos atletas, e só depois, agir". Além disso, ele ressalta que a linguagem de treinador e psicólogo devem ser semelhantes e complementares. "O psicólogo deve ser capaz de transmitir a segurança do treinador para o atleta", completa.
Um grande problema apontado por Urizzi diz respeito a algumas atitudes dos treinadores, que acabam inibindo e prejudicando os atletas. Para ele, atualmente, criou-se um falso modelo de técnico perfeito. Um técnico que grita com seus atletas e que cobra resultados o tempo inteiro tem sua imagem ligada ao trabalho e à competência. Esta também é uma visão falsa para o professor Dante de Rose Júnior, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte (GEPPE). "No basquete, por exemplo, muitos treinadores acabam desperdiçando seus tempos técnicos com cobranças e apelos comuns, sem se preocuparem em transmitir possíveis mudanças de estratégia de jogo", diz ele.
Os treinamentos multidisciplinares e a vivência prévia das situações de competição também são muito importantes para a preparação psicológica do atleta. "A interação com outros atletas bem como o conhecimento anterior dos locais de competição são preparativos essenciais para a situação competitiva", afirma Urizzi. Como um dos técnicos da Seleção Brasileira de Natação nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg em 99, ele destaca o trabalho realizado por psicólogos e treinadores nesta competição. "Realizamos uma preparação de três semanas nos Estados Unidos, na qual privilegiamos a integração máxima do grupo. Houve também um contato com os nadadores da temida equipe americana. Estas interações motivaram bastante a equipe, que chegou no auge de suas condições físicas e psicológicas para a competição". E foi justamente nessa competição que a natação brasileira bateu o seu recorde em Pan-americanos, conquistando sete medalhas.