ISSN 2359-5191

25/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 79 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Madeiras guardam registro de clima da Terra

São Paulo (AUN - USP) - Algumas árvores guardam dentro de si um relato histórico do tempo em que viveram. Através da contagem dos anéis existentes dentro dos troncos é possível conhecer a idade dessas árvores, além de características do clima da época em que cresceram. Dados como esses permitem que se determine a temperatura da terra através dos tempos, além de tornarem visíveis as mudanças climáticas globais.

Segundo o professor Gregório Ceccantini, do Instituto de Biociências da USP (IB-USP), a existência de anéis horizontais dentro do tronco das árvores se dá pela alternância do clima, que regula o crescimento do vegetal. “O que demarca o crescimento é a estação seca, quando a árvore cresce menos”, diz. Em épocas de estiagem, o câmbio, tecido vegetal que forma a madeira, entra em dormência e a árvore “hiberna”, só voltando à atividade quando há condições adequadas. Forma-se então uma nova camada de crescimento, que geralmente é anual, o que torna possível contar com precisão a idade das árvores.

Mas o clima nem sempre é regular, principalmente próximo ao Equador. A existência de climas atípicos, como chuva no inverno, nos chamados “veranitos”, ou seca no verão, pode induzir a árvore a alternar o seu ritmo de crescimento e produzir falsos anéis. Por esse motivo, biólogos encontraram outros caminhos para calcular a idade desses vegetais. O mais eficaz é o estabelecimento de “anos marcadores”, que são aqueles em que se nota a existência de climas radicalmente incomuns, como chuva intensa ou forte estiagem, e que produziram um crescimento diferenciado nas árvores. “O anel desse ano será muito grande ou muito estreito, portanto, é fácil encontrá-lo e estabelecê-lo como um ponto de referência”, diz Ceccantini.

Através desses marcadores, que vão apresentar o mesmo comportamento em árvores que viveram na mesma época e em áreas próximas, e com o auxílio de cálculos matemáticos, é possível estabelecer comparações entre os diferentes vegetais e criar uma linha cronológica com as características do clima. Dados como o nível de precipitação da chuva e a temperatura ambiente de diferentes épocas podem ser facilmente calculados.

“Árvores Milenares” Segundo Gustavo Burin e Ricardo Cardim, mestrandos do IB-USP, que estudam a idade das árvores, na chamada dendrocronologia, as árvores existentes nos trópicos não alcançam a mesma longevidade daquelas de zonas temperadas. “Há uma cultura aqui no Brasil de que árvores grandes são árvores milenares, desde antes de Cristo, mas na verdade essas árvores têm um crescimento muito acelerado, por estarem em ótimas condições de crescimento”, diz Cardim. Segundo ele, a árvore mais velha dos trópicos, de que se tem notícia, está nos altiplanos bolivianos e tem cerca de 800 anos. A mais velha do mundo é um pino dos EUA, que tem 4800 anos e ainda está vivo.

Já em São Paulo, é difícil encontrar árvores tão antigas. Segundo Burin, a região do oeste do Estado tem fragmentos de mata com madeiras de grande porte, como a peroba e o jequitibá. Mas está desaparecendo: “a tendência é que nossos filhos não vejam essa mata com tanta pujança quanto ela tinha quando era uma mata contínua”, diz. Na capital, por sua vez, encontram-se árvores antigas apenas em regiões isoladas, como no Parque da Luz e na mata do Trianon. Nesse último, em pleno coração financeiro de São Paulo, há um jequitibá branco com um metro e meio de diâmetro e 30 metros de altura. “Conseguiu passar pela época da urbanização e está lá até hoje. É o último dos moicanos”, diz.

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