ISSN 2359-5191

30/07/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 82 - Educação - Escola de Educação Física e Esporte
Escola gera miniaturas de atletas ao inverter a formação esportiva

São Paulo (AUN - USP) - Há uma inversão do processo de formação do atleta na atualidade, segundo o professor Antônio Carlos Simões. Ele, que coordena o Laboratório de Psicossociologia do Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE/USP), afirma que a Escola deixou de construir a base da formação esportiva da criança. Ao invés disso, o que se vê é a presença de “atletas em miniatura” em virtude dos modelos da atual realidade social competitiva.

Para Simões, existe um macrossistema do esporte, cuja integração seria responsabilidade da Escola. Esta deveria agir como um parâmetro de socialização através da prática escolar-esportiva, só que pouco se vê a preocupação em trabalhar a vivência motora, de acordo com o pesquisador. As escolas, porém, olham a criança sob o viés da relação custo/benefício, investindo na prática esportiva-escolar, a qual obriga o “mini-atleta” a seguir os modelos de alto rendimento na atividade física.

A lógica correta da formação atlética, de acordo com Simões, é a criança ser iniciada na atividade física de massa, fazendo exercícios motores lúdicos. Em seguida, a criança chegaria ao patamar da atividade participativa, em que o importante é a qualidade de vida. Por fim, chegar-se-ia ao nível de desempenho do esporte de elite, o alto rendimento. Esse modelo de saúde biopsicossociocultural, porém, esbarra na realidade competitiva da contemporaneidade, exigindo esforços inumanos da criança que entra nesse ambiente do alto rendimento.

Os pais também não são isentos de responsabilidade sobre essa inversão. Conforme Simões, as lideranças adultas, incluindo os parentais, pressionam a criança para obter o êxito esportivo. “Os pais, na verdade, inconscientemente querem que os filhos sejam aquilo que eles não foram”, exigindo um nível de desempenho que se aproxime cada vez mais do rendimento de um profissional. Há uma transposição de vontade e desejo dos pais para os filhos, os quais têm de suportar as implicações psicossociais da extrema competitividade esportiva.

Segundo Simões, isso atropela a formação da personalidade da criança, a qual passa a lidar com todas as pressões por performance do esporte de alto nível. Por um lado se perde a dimensão pedagógica do esporte, enquanto por outro, fomenta-se valores tais quais a competitividade, a eficiência e a excelência. A criança assume o papel de máquina de alta performatividade e, em conseguinte, lucratividade.

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