São Paulo (AUN - USP) - Enquanto a indústria de concreto armado evolui, apresentando mudanças na formulação do produto, os procedimentos utilizados no controle de qualidade do material estagnaram-se. Consultores internacionais de indústrias do ramo criticaram esse atraso, apontando a falta de atualização das metodologias de avaliação como o principal obstáculo para a melhoria do concreto, no que diz respeito à durabilidade. Diante desse quadro, o Grupo de Pesquisa de Materiais e Componentes da Construção Civil, da Escola Politécnica da USP, iniciou um trabalho que busca contribuir para a evolução dos critérios utilizados no controle de qualidade dos concretos estruturais, em atmosferas marítima e urbana.
A pesquisa tem previsão de durabilidade de 15 anos, estudando os mesmos corpos de prova. Provavelmente, muitos dos materiais utilizados, no início do trabalho, não estarão mais no mercado, ao final das análises. Mas, segundo Sílvia Selmo, coordenadora da pesquisa, isso não representa nenhum problema, porque o objetivo, a longo prazo, é entender mecanismos de deterioração de um modo geral, ou seja, independente de especificações de materiais. A curto prazo, a pesquisa tenta estabelecer procedimentos mais rápidos para se definir a adequação do concreto à obra. Hoje, é preciso esperar 28 dias para se obter essa resposta.
No Brasil, o controle de qualidade do concreto está muito ligado à idéia de que o mais importante é avaliar a resistência à compressão. Porém, praticamente todas as indústrias do ramo atendem a essa exigência. Sendo assim, o processo de avaliação do material não fornece nenhuma informação nova ou interessante e perde a serventia para aqueles que recorrem a ele. A pesquisa propõe analisar outras variáveis, como a resistência à carbonatação e à penetração de cloretos dos concretos. Esses estudos serão feitas tanto através de ensaios acelerados (até 91 dias), como por exposição natural, em prazos de longa duração.
Além das análises laboratoriais, essa pesquisa pretende, também, ir a campo. “A intenção é ficar 15 dias em uma obra, voltar para o laboratório, retornar 30 ou 40 dias depois, em outra construção, fazer as mesmas medidas e analisar”, esclareceu Sílvia. Para iniciar essa fase do trabalho, o grupo aguarda a resposta do pedido de financiamento, já encaminhado à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Os resultados da pesquisa servirão, não apenas para aprimorar o controle de qualidade do concreto, mas, também, para auxiliar os engenheiros calculistas. Afinal, a decisão sobre qual material usar é responsabilidade desses profissionais e influencia, diretamente, no sucesso do projeto. Segundo Sílvia, as últimas revisões da norma de cálculo de estrutura delegaram muitas tarefas aos calculistas, mas não deram o suporte necessário para que eles cumprissem essas novas obrigações. As propriedades dos materiais da construção civil é um exemplo de informação que deveria estar à disposição dos engenheiros para melhorar o desempenho do projeto.