São Paulo (AUN - USP) - As vagas ociosas na Universidade significam grande prejuízo à sociedade, que paga impostos para a formação de profissionais qualificados e não vê esses profissionais atuando, simplesmente porque eles não se formam. Os cursos oferecidos pela Universidade de São Paulo na área de exatas são os que mais apresentam vagas abertas no processo de transferência externa para 2009. Do total de 619 vagas, 435 estão na área de exatas, só no IME, Instituto de Matemática e Estatística, são 95. Os cursos de Matemática merecem atenção especial: foram abertas 45 vagas na Licenciatura e 33 no Bacharelado.
Esses cursos são aqueles que possuem as menores relações candidato/vaga da segunda fase da Fuvest (3,16 para o Bacharelado e 3,09 para a Licenciatura). A professora Deborah Martins Raphael, coordenadora do curso de Bacharelado em Matemática (conhecido como “matemática pura”), explica que essa baixa procura pelas chamadas “ciências duras” é um fenômeno mundial. Ela avalia que isto está relacionado à falta de divulgação das carreiras matemáticas, porque mercado de trabalho é cada vez maior. “A Matemática é reconhecida como a linguagem das ciências e da tecnologia. O profissional com uma sólida formação em Matemática é capaz de atuar em vários campos, resolvendo novos problemas e desafios”. A professora Iole de Freitas Druck, coordenadora do curso de Licenciatura, acredita que há uma estigmatização da ciência por conta da maneira traumática como ela é ensinada nas escolas.
O principal fator para o alto número de vagas disponíveis está relacionado à formação inadequada dos alunos que, além de não dominarem os conceitos do ensino básico também se surpreendem com o alto nível de exigência, tradicional nas faculdades de ciências exatas.
A professora Deborah explica que o aprendizado em Matemática depende de conteúdos anteriores. “Se o aluno não tem condições de dominar certos conceitos, não tem sentido que ele vá para frente, pois certamente terá dificuldades: daí a insistência numa avaliação rigorosa”. Por isso, não são cursos que possam ser “levados com a barriga" e então os alunos acabam desistindo.
Além disso, o grande número de retenção dos alunos em diversas disciplinas também acaba agravando todo esse processo, pois as turmas vão ficando cada vez maiores, impedindo que haja uma maior aproximação entre professor e aluno. Com o ensino prejudicado, fica cada vez mais difícil para o aluno conseguir avançar no curso, o que se reflete no alto número de “jubilamentos”, responsável também pelas vagas abertas.
Por outro lado, pondera Deborah, essa exigência resulta em excelência: os “alunos egressos do IME-USP podem fazer pós-graduação em qualquer faculdade, dentro ou fora do país, certos de que sua formação de graduação foi adequada”.
Mesmo com o processo de transferência as vagas continuam sobrando, isso ocorre porque os graduandos que se candidatam à transferência externa, portanto, que são de outras faculdades, são reprovados. “Eles não conseguem obter a nota mínima na prova de Cálculo I; isto demonstra a enorme defasagem entre os cursos de Matemática da USP e das faculdades particulares”, alerta a professora Iole.