São Paulo (AUN - USP) - Apesar da burocracia que caracteriza a USP, alguns casos demonstram que a universidade também é um espaço para ações individuais e solidárias. Um deles é o ocorrido com Lucas Favaro, aluno da Escola Politécnica da USP, que sempre teve bom desempenho no curso de Engenharia Mecatrônica. No segundo semestre de 2006, no entanto, foi reprovado em todas as matérias que cursava. Poucos sabiam o motivo de sua dificuldade: o estudante havia perdido parte do sentido que mais utilizamos – a visão. Ao tomar conhecimento disso, os professores da faculdade se mostraram sensibilizados e ofereceram um acompanhamento especial, dando mais condições para o aluno seguir seus estudos.
Em agosto de 2005, Lucas teve traumatismo craniano após se envolver em um acidente de automóvel. Ficou 20 dias em coma e depois se tratou na Divisão de Medicina de Reabilitação, no Hospital das Clínicas. Recebeu alta após o tratamento, mas uma seqüela permanece até hoje: além da vista embaçada e fora de foco, seu campo visual esquerdo apresenta um ponto cego. O estudante retornou à faculdade como aluno ouvinte e, no segundo semestre de 2006, voltou a freqüentar o curso normalmente. No entanto, logo percebeu a enorme dificuldade para acompanhar as aulas. “Dá para ter um esboço do que se passa”, diz o aluno, que teve sua capacidade de absorção reduzida devido à perda parcial de um sentido.
Lucas fez transferência para o curso de Engenharia Naval, que, por ser menos técnico, poderia levar com mais facilidade. Ao saber do caso do aluno, um professor desta unidade, Marco Brinati, propôs um método especial para que Lucas acompanhasse sua matéria. Ao invés da aula tradicional, o estudante passou a ter aulas particulares na sala do professor. O curso segue seu próprio ritmo de aprendizado e terá a duração que for necessária. O sistema funcionou tão bem que outros professores, como Hélio Morishita, se dispuseram a adotá-lo. “Agora acredito que vou me formar mesmo”, comenta o aluno. Este ano, Lucas se candidatou a uma vaga no Conjunto Residencial da USP (Crusp), pois estar perto dos professores facilitará seus estudos.
O estudante reconhece que demorou a procurar ajuda dos docentes e hoje recomenda que isso seja feito o quanto antes pelos que passaram por situação semelhante. A resposta dos docentes causou surpresa ao aluno e a funcionários da própria universidade. A administração da Escola Politécnica concedeu, ainda, mais tempo para que o aluno concluísse o curso.
Além de iniciativas particulares como esta, a USP vem adotando algumas medidas para beneficiar pessoas portadoras de deficiências e proporcionar-lhes a ajuda que precisam. O programa USP Legal, por exemplo, promoveu recentemente instalações de centrais de atendimento para deficientes auditivos no campus.