São Paulo (AUN - USP) - Dados da produtividade das indústrias, cálculos da renda nacional e números do crescimento econômico são divulgados diariamente pela imprensa. Tais grandezas permitem visualizar a realidade econômica de um país e revelam a importância da matemática no trabalho de um economista.

Tendo por objetivo discutir o papel da matematização no desenvolvimento das teorias econômicas contemporâneas, o ex-ministro da Fazenda e do Planejamento Antônio Delfim Netto reuniu recentemente na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP os professores Aloísio Pessoa de Araújo e José Novaes Chiappin para debater o assunto. O evento fez parte de uma série de seminários que Delfim promove desde que retornou à FEA em 2007.

Professor da Escola de Pós-Graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), conhecida por introduzir o rigor matemático e a sofisticação teórica no ensino e pesquisa de Economia no Brasil, Araújo apresentou por mais de uma hora diferentes modelos econômicos desenvolvidos a partir da matemática e destacou a interação entre as duas áreas.

Brincando com o fato de Chiappin, professor da FEA, ser graduado em Física, ele explicou que a matematização da Economia foi mais tardia do que a da Física em decorrência de sua complexidade. “Não somos precisos como os físicos, mas também não somos como os sociólogos. Aplicar o mecanicismo da Física à Economia é uma atitute muito pobre. É simplificar o estudo de uma ciência extremamente elaborada”.

Em contrapartida, Chiappin tentou mostrar que os modelos apresentados pelo professor da FGV só existem porque o homem no passado descobriu que poderia representar matematicamente os diferentes fenômenos existentes a fim de compreendê-los. O uspiano salientou que a matemática permitiu um progresso extraordinário em todas as áreas da ciência, e não apenas na Economia, na medida em que possibilitou formular com precisão e clareza os problemas e as soluções que a realidade impõe ao homem.

“A ciência emergiu com a capacidade de resolver problemas e o elemento que permitiu isso foi a descoberta por Galileu e Descartes de uma noção que está por de trás de tudo o que foi dito pelo professor Aloísio: a noção de representação que surge no século XVII. Descobre-se naquele momento que entre o indivíduo e o mundo existe a idéia, basicamente, a representação. E se você representa o mundo, deve criar modelos que possam garantir que sua representação corresponda ao que está nele”, explicou Chiappin.

Nesse sentido, os economistas prescindiram da matematização para desenvolver melhor seus trabalhos de teoria econômica. Enquanto representações, os modelos fazem com que a realidade seja melhor visualizada e conclusões mais objetivas sejam tiradas.

“Os instrumentos de solução de problemas são encontrados na matemática. O que o economista faz é transferi-los para sua área de interesse para poder interpretar o mundo a sua volta. Ele procura no dicionário de representações a solução de um problema”, destacou o professor da USP.

Catedrático da cadeira de Teoria do Desenvolvimento Econômico da FEA, Delfim Netto, após duas horas e meia de discussão, encerrou o seminário de maneira bem-humorada, e concluiu: “[O grande nó do debate] é que Física Quântica ninguém sabe o que é e funciona, já Economia todo mundo sabe o que é, mas não funciona”.